A FIGURA - (Cordel)
Data 20/11/2007 17:15:16 | Tópico: Poemas -> Fantasia
| A FIGURA - Cordel Paulo Gondim 02/04/2007
Tomei um sopapo no meio do peito Senti o efeito daquela pancada Caí meio tonto, naquela calçada Que fica na rua, do lado direito Tentei levantar, mas não teve jeito O mundo rodou, não saí do lugar A dor que senti nem dar pra contar Deitado fiquei à beira da praça O povo da rua achava era graça Da pobre figura que fui me tornar
Um "filho de Deus" esboçou piedade Me deu um remédio, pra dor na cachola Passou um sujeito e deu-me uma esmola Pensando que ia fazer caridade Porém sem saber qual era a verdade Mas logo saiu e eu fiquei lá Perdido, esquecido, naquele lugar Um outro passou, de mim fez piada Os outros ali, só deram risada Da pobre figura que fui me tornar
O tempo correu, a tarde chegou E quase ninguém olhava pra mim Ninguém perguntava de onde é que vim E pouco importava pra onde é que eu vou O que ocorrera e como é que estou Então acordei e me pus a pensar Como foi que cheguei naquele lugar Se nem eu sabia o que me ocorreu Se nem o sopapo eu sei quem me deu Só sei da figura que fui me tornar
Mas, essa figura tão rude e tão feia Ergueu a cabeça, se pôs a olhar O povo passando pra lá e pra cá Calado, sisudo, com cara de meia Se ali tinha vida ou se a vida é alheia Pensei cá comigo, vou me levantar Vai ser “uma briga”, mas eu vou tentar Um pé para frente, um outro pra cima Bati na parede e no poste da esquina Mas essa figura de pé vai ficar
A tarde findou e a noite se fez E eu já de pé, para rua andei No meio da praça, num banco sentei Mais uma esmola me deram outra vez Eu não entendi, porém fui cortês E o povo passava pra lá e pra cá Algumas pessoas ficavam a me olhar Eu desconfiado, sem saber por que Ai percebi e fui também ver A pobre figura que fui me tornar
Da praça, eu sai com a minha tristeza Andei pelas ruas no meu desalinho Vereda ou picada pra mim foi caminho Na minha viagem de pura incerteza A noite avançada me trouxe fraqueza Porém, mesmo assim, não parei de andar Sem destino certo e aonde chegar Levando comigo as dores do mundo Tão fraco, tão feio, igual moribundo Essa pobre figura que fui me tornar
Eu dormi um sono, num canto qualquer E só acordei com o clarão do dia Rezei um “Pai nosso”, uma “Ave Maria” Acendi logo um fogo e fiz um café O sol clareou e eu já estava de pé Saí apressado, me pus a andar Com a leve certeza que quero chegar Num porto seguro, tão certo pra mim Que me dê guarida e que possa enfim Sair da figura que fui me tornar
E por todos caminhos, por onde passei Tristezas vivi, não vi alegria Vi pouca coragem, mas vi covardia Amor, compaixão eu não encontrei Porém, mesmo assim, aqui eu cheguei De volta pra terra, que é meu lugar Daqui eu não saio, aqui vou ficar Mostrar para o mundo o fim da amargura O renascimento dessa criatura E a NOVA FIGURA que vai se tornar!
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Publicado no Recanto das Letras em 05/04/2007 Código do texto: T438374
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