As gavetas proibidas do psiché

Data 14/08/2012 21:49:21 | Tópico: Textos

Ao fundo do corredor uma velha cómoda cujas gavetas empenadas guardavam segredos impossíveis de descobrir... o puxador redondo, de madeira, de nada servia visto que a gaveta se mantinha imóvel mesmo depois de uns valentes puxões. Tudo o que conseguiu foi um ranger de ossos perros, que num instante de distracção, deixaram escapar uma fisgazinha de nada pela qual um olho curioso tentava num esforço de detective, vislumbrar os tesouros que ali se sabiam existir, para além da escuridão. Mas nada. Só o breu impenetrável enchia a caixa pregada que a frágil força de uma criança não conseguia mover. Esforços inúteis!
No quarto ao lado, o psiché a chamar. Também ele todo gavetas apetecíveis. Não fossem os espelhos ameaçadores a guardarem-no com lanças de reflexo, intimidando qualquer tentativa de invasão pela culpa, devolvida na imagem acusatória e apresentada em três frentes distintas, de um acto hediondo como era o de remexer gavetas proibidas e cujas chaves se escondiam sempre por debaixo do naperon, onde a moldura com um tio de bigode retorcido e olhar reprovador, tomava conta.


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