Mitologias

Data 15/08/2012 13:16:02 | Tópico: Poemas

Atropelados
Por tanto pressa
Foi nosso amor,
Foi nossa dor

Nas vastas vias
Congestionadas
De estreitas gentes
Em amargor

Nas mãos de Chronos
E devorando
Os próprios filhos,
Mitologias,

Enquanto guiam,
Entre Tifeus,
Titãs e cérberos
E vãs certezas,

Os próprios carros,
Os próprios medos
De sós ficarem
Sem posto ou carro,

Sem cargo ou farra,
Paralisadas
E engarrafadas
Nos vãos, semáforos

De uma avenida
Que só conduz
A inútil pressa
De quem perdeu

Há muito tempo
As mãos e o véu,
Úbere céu
Que nos atavam.

E agora assim
Sem nada mais
Que nos vincule
Sem canto ou messe

Para cantar,
Para ceifar
E que traduzam
Feroz vertigem,

Qualquer verdade,
Perdida herdade
Que nos acolha,
E nos recolha

De frio chão,
Procuro em vão
Por nós, velames,
Por quilha e amarras,

Velhas canções,
Arras, camões,
Canhões, guitarras
Num peito arcano

Que mesmo só
Sem vela e insano
Na estrada imensa
Insiste e canta.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=228733