
Párias
Data 26/08/2012 14:48:44 | Tópico: Poemas
| Acendes a fogueira Que não é a bem faceira De roda e de brincar, De festa e São João Mas gélida de agosto, De ser todo em desgosto Acesa pra espantar Baratas e friagem, Sob hirta e fria laje, Sob hirta e fria noite Escassa, de estiagem. Tão fria que arrepio Provoca qual açoite De látego no corpo Baldio, correntio, Na trágica orfandade Dos párias da cidade, Escravos sem senzala. Entanto tal fogueira Dos sem eira nem beira, De restos que tu catas De esquinas e lixeiras, Dissipa chama rala Que pouca força tem Ao frio secular Que vem de tropical Cidade americana Enfim subjugar, Enfim de ti afastar Os ratos que também Te correm pelos pés. Contigo todos comem Semelhos a novo homem Que rói a velha lápide Decrépita e ancestral Que afunda em lamaçal. E sob rija laje, Concreto cru de ultraje, Se esfria até a vontade Da pobre mão pedinte, De ser tornado helminte, Esmolas suplicar – Terrível condição, Gravosa de aleijão, Que além desta matéria Te inflige a vil miséria. Dormir é o que tu queres, Dormir para esqueceres A frágil noite e seres Que habitam estes pântanos De sapos e elefantes Comendo a cria infante Com molho de alcaparras Em meio a loucas farras, Enquanto tu escarras Um rio intolerante Aos pés de nossas casas.
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