Tudo resto é desgosto...

Data 21/11/2006 22:28:30 | Tópico: Poemas -> Reflexão

Tudo o resto é desgosto

Operário assalariado, membro do proletariado.
Trabalhas que nem um desalmado explorado e mal pago,
por vezes humilhado, ferido na dignidade
Fechas os olhos a contento de superiores mal formados,
apenas preocupados com produtividade e absentismo.
De bigode ou pêra todos iguais, munidos de egoísmo
e desrespeito pela condição humana.
Palavras atrozes, pessoas algozes…
Para quem és apenas um número…
Aconteça o que acontecer “a culpa é sempre do operador”…
Pensam que te compram a alma com um salário mínimo.
Quantia irrisória que te pagam para seres profissional qualificado.
Directores de recursos humanos, a podridão sem explicação,
tal e qual os engenheiros da produção…
Se pudessem nem os direitos humanos respeitavam
Cantina que patrocinas a azia de princípio de tarde…
A levedura que é servida, o pão duro de domingo.
Aos que chegam atrasados “é-lhes servido apenas restos”,
os nervos impossíveis de mastigar.
Porque não almoça aqui o director do estabelecimento prisional?
Comida infernal com consequência intestinal
Ai tanto que temos a lamentar,
os que nada dizem têm uma cenoura a frente dos olhos,
filhos da entidade patronal, pessoas animadas pelo mundo desigual.
Sentes-te ordinário se não vais ao plenário…
Sindicaliza-te e luta com coragem, deixa de ser pajem.
Vives na indefinição de um contrato a prazo,
na notícia de a fábrica ir fechar ou deslocalizar…
Bons carros para os directores, sejam eles quais forem…
Fins de semanas e feriados passados na fábrica,
para sorrires mais um pouco ao fim do mês.
Entras ainda de noite para saíres depois de o sol estar posto,
a única luz que beija teu rosto é a de uma imensidão de lâmpadas florescentes.
Tirando o mês de Agosto tudo o resto é desgosto.






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