Recital no Lago Mudo...

Data 29/08/2012 12:39:59 | Tópico: Poemas -> Tristeza

No lago coaxa um sapo
Imergido em fadados condões...
E vai enfunando o papo
Coaxando a plenos pulmões...

O lago, todo o seu mundo...
Tremula na água, ensimesmado,
E canta em cantos profundos
E tão triste coaxa em fados...

Se bem coaxa enfados?!
Que pasmo, tamanha emoção
Ouvir o sapo cansado
Coaxar amargurada canção...

Uma guitarra - mágica serena -,
O sapo a dedilha condoído
E de Fernando Pessoa, o poema
Recita num coaxar tão dorido:

“* Contemplo o lago mudo
Que a brisa estremece
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece...

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo...
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo...

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida...
Por que fiz eu dos sonhos
Minha única vida?”


Na frialdade, o tempo persiste
E tudo - nessa hora -, esmorece
E o sapo, coaxando triste,
Contempla o lago e adormece...

* Contemplo o Lago Mudo – Fernando Pessoa

(® tanatus – 20/03/2010)


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