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 O MILHO VERDEData 24/11/2007 15:58:43 | Tópico: Poemas -> Alegria
 
 |  | O MILHO VERDE Paulo Gondim
 19/10/05
 
 Manhã de abril, o mato em flor
 A chuva passou, pois enfim chegou
 E trouxe de volta a vida.
 Já quase esquecida
 De tudo perdida
 Do pouco que sobrou.
 
 Mas, enfim, era abril e o mato em flor
 Não só o mato, mas as cercas
 Os açudes, os barreiros, as cacimbas
 Um cheiro de mato verde, de prado
 Enchia o ar no seu esplendor
 Um cheiro bom,
 Perfume dos deuses
 Soprando a favor
 
 E como prova de resistência, o milho
 Milho verde, milho em flor
 Grãos de ouro no corpo de bonecas loiras
 De cabelos vermelhos, amarelos, escuros
 Grãos de milho, caroços de milho
 Contraste da fome, para matar a fome
 Enfim o milagre!
 
 E vi meu pai sorrir, agradecer a Deus
 Sua prole seria alimentada
 Ouviria os gritos alegres de seus filhos.
 
 E o cheiro de milho verde invadiu a casa
 Casa simples, uma porta de entrada
 E uma janela pequena,
 Perdida na imensidão da parede de taipa
 Chão batido. Nenhum móvel
 Apenas uma forquilha de angico
 Segurando o pote
 Os canecos dependurados.
 
 Desfolhou-se o milho verde
 Cheiro gostoso, forte, próximo.
 Do milho veio a pamonha
 Farta, grossa, com caroços inteiros
 Amarrada ao meio
 Com embiras de palha
 Fonte de vida
 
 E todos comeram, com gosto
 Um banquete divino!
 Todos, homem, mulher e meninos
 Vários meninos
 E se fartaram
 E celebraram
 A mesa farta
 E venceram a fome
 
 Como numa festa longa
 No final do dia
 Foram se deitar
 A balançar as redes
 Todas remendadas
 Parecia arte
 Ou necessidade
 
 E todos cantaram o que sabiam cantar
 Contaram estórias, riram,dormiram
 De barrigas cheias, de felicidade
 De vencer a fome
 De poder sorrir
 De poder dormir
 
 Como é belo o milho !
 Rubens Braga já falara
 de Seu “Pé de Milho”
 Era um só pé de milho, no jardim
 Um só, isolado, mas de bela figura.
 Os nossos eram muitos
 Uma roça inteira de milho
 Um milharal!
 
 Que deu espigas, mil por um
 Que deu pamonha, canjica, pipoca
 Que trouxe alegria, trouxe a vida
 Venceu a fome
 
 Foi assim com meu pai
 Assim com os meninos,
 Muitos meninos
 Que brincavam, se balançavam
 “peidavam” e davam “gaitadas”
 Na sua simplicidade
 Na imensa felicidade
 Da barriga cheia.
 
 Foi assim com meu pai
 Foi assim em todo o sertão
 O cheiro do mato verde
 O cheiro do milho verde
 O sonho do sertanejo
 Realizado, revelado
 No milagre da chuva
 
 E tantos meninos fracos
 Se fizeram fortes
 Se fizeram machos
 Machos de porte
 De poucas posses
 Mas de muita macheza
 De muita grandeza
 Heróis do sertão.
 
 
 
 Notas:
 1 - O mato em flor – Variante de -a mata em flor, da música Assum Preto – H.Teixeira e L. Gonzaga
 2- Parede de taipa- barro amassado entre troncos e varas, muito comum no sertão.
 3 – Rubens Braga – Escritor- “Meu pé de Milho”
 4- Gaitada – Termo sertanejo para Gargalhada.
 5 Se fizeram machos, machos de porte, de poucas posses, de muita macheza-
 Alusão aos poemas “O menino do Balde” e “No céu tem prozac” de Soares Feitosa.
 6- Mil por um – trecho da Bíblia.
 
 
 
 
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