Porquê?

Data 11/09/2012 18:04:16 | Tópico: Poemas

Todas as cores desta cidade comungam no cinzento,
Cinzentos os prédios oblíquos, os bancos de madeira no jardim,
As flores vivazes amortalhadas nos seus canteiros,
Até o bico dos melros de olhos de hulha são cinzentos.
Uma aragem suave em tom cinzento e fria percorre um rosto,
O corpo tomba lentamente para a frente
Os lábios ficam flácidos, entreabertos ao anúncio do vómito breve,
Olhos espantados num rasgo de dor, e a velha interrogação
Tantas vezes vista no poster que este homem pregou na parede do seu quarto
adolescente,
Um soldado trespassado pelas balas e uma palavra – Why?
No cinzento da cidade, o homem também é hoje soldado,
Despojado de todas as suas armas - Os braços abrem-se em asas de condor,
Procura alcançar em voo a imensidão dos Andes – uma náusea no momento em que o corpo tomba morto na terra húmida.
O silêncio da morte não perturbou o silêncio dos seus cabelos ondulantes.


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