Tira-me a noite o que o dia me dá

Data 18/09/2012 13:45:42 | Tópico: Poemas

Tira-me a noite
O que o dia me dá.
Podem ser as manhãs frias
Debruadas em rendas de nevoeiro,
Pode o dia despontar afogado
Em insonsas lágrimas de chuva,
Ou o sol ser apenas
Um bordado num lenço de namorados,
Sei que a ti chegarei,
Sei que tu me terás.
Podem cantar as cotovias na tarde outonal,
Odes de morte e penúria,
E mesmos os cães abandonados
Nos jardins dos lamentos,
Podem uivar maus presságios,
Nada nos pode demover.
Abraçados, coloco uma rosa nos teus lábios,
Amoras silvestres nos teus olhos,
Que me esmagam com imensa ternura.
Toda a negritude da noite está dentro do meu peito,
E espero com a paciência de uma fera ferida
O despontar do dia.
Enlaço o fio que nos une
Durante a tua ausência em nós de macramé,
E escrevo o teu nome à luz de um candeeiro,
Mil vezes, e mil vezes me dou perdido,
Angustia-me a sonância da caneta a roçar o papel,
Sei ser esse o som do teu corpo junto a outro corpo,
A revolver lençóis,
Em afagos, e gemidos contidos.
Maldigo a noite
Enquanto espero
Que o dia me dê
O que a noite me roubou.


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