O DIA DA QUADRILHA

Data 26/09/2012 20:08:57 | Tópico: Crónicas

O DIA DA QUADRILHA “LEVANTA A SAIA”

Era o mês de junho, em Aracaju, capital de Sergipe. O clima de São João tomava conta da cidade. O som do forró era ouvido nos quatro cantos da capital sergipana. No famoso palco da Rua de São João, totalmente tomado por bandeirolas e barracas, vicejava xote, xaxado e baião. Os palcos do Forró Caju estavam em fase final de preparação para grandes shows. Era emocionante viver tudo isso e sentir toda uma população preparar-se para a noite de São João ensaiando, dançando, cantando e quadrilhando nas ruas, nas escolas, nos clubes, associações e sindicatos.

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Oscar Nascimento, no Bairro Santo Antônio, o São João começou cedo. A sua nova diretora, Professora Denise Carvalho Moreno, e sua equipe prepararam com carinho o envolvimento das crianças no clima junino. As professoras ensaiaram as apresentações de cada série desenvolvendo a expressão oral e a teatralidade dos seus alunos. Mas a grande surpresa era a Quadrilha Levanta a Saia, com os alunos de diversas séries.

Para ensaiar e dirigir a apresentação da quadrilha foi contratado um participante da Quadrilha Rosa Dourada, que com mais dois quadrilheiros trabalharam com as crianças este projeto educativo, recreativo e cultural. Nem o pouco tempo para os ensaios nem a conjuntivite do animador diminuiu o ânimo dos envolvidos no projeto. A quadrilha continuava sua trajetória em direção da festa da escola, na Sexta-feira, 20, e do Forró da Educação, no palco da Rua de São João, no dia seguinte, quando faria sua segunda apresentação.

E chegou o grande dia. A escola não cabia em si de expectativa e não cabia toda aquela gente participante e convidada, além dos pais dos alunos. Eram recebidos por uma fogueira e um enorme cartaz com um casal caipira. Passavam pelo corredor e chegavam até o pátio decorado e com bancos e cadeiras. A chuva não incomodou e a diretora checava os últimos detalhes, com o apoio da nova coordenadora administrativa e dos funcionários.

Quando os “Boas Noites!” soaram pelo microfone, os últimos arranjos espaciais coincidiram com o início das chuvas. A diretora agradeceu a presença de todos e desejou uma boa festa para a comunidade oscarnascimentista. Passou o microfone para a professora apresentadora, sem deixar de agradecer aos convidados de diversas entidades, amigos baianos e a representante da Secretaria Municipal de Educação, lotada nessa escola. Chovia. Mesmo assim, o afasta-aqui-põe-banco-ali e os guarda-chuvas abertos conseguiram espaço para a quadrilha, o casamento na roça, e o forró das primeiras séries.

Afinal, chegou o grande momento. A apresentadora anunciou a presença da Quadrilha Levanta a Saia, ensaiada pela Quadrilha Rosa Dourada, mais precisamente pelo Quadrilheiro Paulo e seus dois companheiros. Abriu-se mais espaço. A diretora fez questão de lembrar que foram apenas três semanas de ensaios, que o marcador esteve doente e ensaiou assim mesmo e naquela hora pediu toda atenção para eles.

O zabumba iniciou a marcação. Os pares saíam um a um do corredor. As meninas, isto é, as damas, sacudiam as saias levantadas, sem parar (começou a ficar bonito!). Os dois marcadores orientavam as crianças com cuidado, carinho e atenção, num jogo sutil de sinais e olhares, sons e movimentos. Parecia algo impossível no pequeno espaço, no pequeno tempo ensaiado, mas aqueles quadrilheiros de todos os tamanhos e idades não pareciam dispostos a achar nada impossível. E as duas fileiras estavam prontas (as saias tremiam como num balé clássico). À frente, dois casais, um deles formados por uma aluna de uns onze ou doze anos(sempre sorridente) e um marcador. Atentos a cada detalhe, a cada casal, os marcadores e o homem do zabumba seguravam a alegria e a atenção dos pequenos quadrilheiros para a arte de dançar uma quadrilha junina na capital do forró.

Quando o cantor puxou a música, entramos no mundo mágico da cultura nordestina. Aquele som uníssono do farfulhar de saias rendadas e o ritmo solitário do zabumba davam àquela quadrilha toda a magia que o mundo infantil pode nos dar. Eu olhava cada rosto de menino e menina. Rostos alegres, atentos, sérios ou debochados, mas todos ligados no maestro e este ligado neles e no marcador auxiliar, para que tudo saísse perfeito.

Iê! A quadrilha dançava. Iê! A quadrilha cantava. Iê! A quadrilha encantava. A harmonia entre os marcadores e as crianças chamavam a atenção; a responsabilidade destes e a alegria educativa e competente daqueles, encantavam.

A Quadrilha Levanta a Saia convenceu e realizou uma belíssima apresentação. Aplausos. Sem dúvida, uma estréia de sucesso. Aquelas crianças não esquecerão este dia importante. Certamente, eu jamais esquecerei.

Em seguida, a Quadrilha Rosa Dourada apresentou-se. Os músicos Evanilson e Sérgio da Banda Xote Baião deram uma canja formando um trio pé de serra com outro convidado. Caracterizados de Lampião e Maria Bonita, os quadrilheiros deram um show de harmonia, alegria e profissionalismo naquele pequeno espaço, um privilégio que poucos tiveram neste São João. O forró continuou e enquanto isso, os alunos e depois os pais se deliciavam com as iguarias típicas da época: canjica, mugunzá, milho cozido, amendoim, bolo de macaxeira, de milho e de carimã ou de puba, pamonha, pé-de-moleque e saroio, especiaria de Aracaju.

Só podemos agradecer à Quadrilha Rosa Dourada e aos seus três membros que ensaiaram os alunos e possibilitaram este show. Só podemos agradecer ao Professor Evanilson, que é cego, e aos outros músicos. Só podemos agradecer a toda a equipe da Escola Oscar Nascimento. Só podemos parabenizar a Quadrilha infanto-juvenil Levanta a Saia. E se o São João acabasse naquele dia, eu voltaria satisfeito para Salvador.



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