APELO AO ALCAIDE - por Joaquim Monteiro Filho

Data 22/10/2012 14:23:27 | Tópico: Poemas -> Humor

Origem deste apelo: "A Lusitana" Empresa de Mudanças, Transportes e Guarda-Móveis, fundada em 1921 pelo com. Joaquim Monteiro, cidadão português, na capital do Estado de S.Paulo, pelo descortino empresarial e a índole pioneira que sempre sobraçou, aliada a uma inteligência ávida por aprender e inovar, instalou os escritórios centrais em imponente prédio no coração da megalópolis paulista. A configuração era local ideal para abrigadouro de numeroso grupo de criaturas sem lar que se serviam do local guarnecido por enormes pilastras cobertas por lage. Ao amanhecer o cenário era constrangedor e repugnante. Sujidade por toda a fachada e sobretudo no acesso às instalações; eram dejetos alimentares, produtos de necessidades fisiológicas, escombros de barracas de papelão...Em meio a este descalabro um odor fétido que afastava os peões para o outro lado da via pública. Diante de tanta imundície restava-nos a obrigação sanitária de colaborar com a saúde pública e com a boa aparência do sítio. Para tanto incumbiu-se uma faxineita para que procedesse a higienização necessária, dando ela início aos trabalhos às 06,30 horas da manhã poupando transtornos aos passantes e usuários dos nossos serviços. Eis quando fomos apanhados de surpresa por um fiscal da Câmara em meio da faxina, lançando-nos uma coima de todo injusta e impertinente. Diante do "flagrante" de que estávamos a poluir a calçada com água servida, flagrante inverdade, resolvi dirigir-me poeticamente ao prefeito, à altura o Dr. Jânio da Silva Quadros.

ROGO AO ALCAIDE JUSTO

Doutor Jânio, bom prefeito
Desta cidade-nação
Bem árdua sua missão:
Que tudo vingue perfeito.

Vénia peço ao que lhe digo
Nesta história que maldigo:
"Dia radiante, propício
Não prometia estropício.

A zelosa faxineira
Desta firma, tão ligeira,
Prestimosa foi limpar
Do meu passeio a sujeira.

Com água, boa vassoura
Mais o gosto pelo asseio
Foi à luta sem receio
Com a garra d'uma moura.

De ver que limpa, inteira
Ficou brilhando a passagem:
Veja o que fez a lavagem
Deixa a visão mais faceira.

Eis que do burgo um vistor
Se insurge com a limpeza
E zás, com louca presteza
Lança da multa o valor.

A mim causou-me tristeza
Ver minha firma apenada
Por fato que não é nada
Por ato são, é certeza.

Faça justiça eu lhe rogo
P'ra não perder minha crença
Mate essa fera sentença
Que a grande mágoa eu afogo".

Respeitosamente
Joaquim Monteiro Filho
Diretor


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