tréguas e memórias

Data 30/10/2012 12:50:02 | Tópico: Poemas

[contra a Natureza nunca pode haver poemas... o que nos resta tentar é que também não haja (muitas) lágrimas.]


tenho memórias ainda líquidas
(à flor da minha carne)
de uma água antiga
miudinha e chuva

em breve talvez

memórias serão só memórias
flores serão só raízes
apodrecidas e terra
já não céus inocentes
lambuzando-se de algodão doce

da era de uma vez

ser pequenina e instante
aprendo devagarinho:
vivesse eu o bastante
para fossilizar memórias
e adormecer sem histórias

da natureza das flores
miudinhas águas
longas tréguas
nuvens negras
lobos predadores

guardaria que

a Natureza é mãe
o lar é o seu reino
a lareira o seu domínio
-
e já não há bons lenhadores.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=234297