Meus lamentos periféricos - Lizaldo Vieira

Data 31/10/2012 03:44:50 | Tópico: Poemas

Meus lamentos – Lizaldo Vieira
The burguês
Reclama de tudo
Do tempo fechado
Quer sol
Água fresca
Cerveja e tiragosto
No ponto
Ainda conta com a elegancia
Da garçonete
Maiscerva
Pra boa
Com sabor apurado
Não importa a marca
Bebo todas
Só que
Quem emgorda o bicho
É o olho do dono
Um olho no padre
Outro na missa
Na várzea
Dou de cara com o gado magro
Desconfio da faltado capim gordura
Sinta falta da tabua
Com a seca do veranico
O verde sumiu
Como ter boa esteira
A fazer neném de fio a pavio
Repousar o gangaço
Do cansaço de tantas léguas tiranas
Onde rebuscar cama de vento
Vejo que o mundo mudou
Se fechando para as tradições
Do são João da gema
Nos arraias do arranca a unha
Já nem temos cantigas e adivinhações
Como dantes
O aconchego da vizinhança
Contando as mais belas histórias
Em noites fagueiras
De fogueiras acesas
Nas reuniões dos terreiros e quintais
Da família brasuca
A bandurra de Zé do morro
Também a zabumba
Reco – reco nunca mais tocaram
Quebraram-se as cordas vocais
De mãe Sabina
E vô Mané
Desafinadas pelo enferrujamento das cordas vocais
A palma da mão não inspira
Instrumento canções de improviso
Modinha de samba de coco
Em volta do arraia
É só musica descartável
A escola rural
Modelo de civilização
Não põe a estudantada na fila
Em manha de sabatina
Boa revista de escutar e cantar
O hino nacional
Tudo agora é descarte
Nesse mundo cão
Ando perdido em nosso chão
Refletindo o beijo maldito
Do prazer imediato
Que ignora as virtudes do amor seguro
Tudo é atropelo dos sonhos benditos
Nunca tive vida fácil
Quando preciso de tu
E de tudo
Vou á luta
Botando a fila pra andar
De tudo sou órfão
Parentes de aderentes
Sonegam meus apelos
Ninguém me socorre
Quando a necessidade
Implacavelmente me aperta
Pra vida
Sou pão mofado
Cavalo velho
Espaduado
Cachorro pulguento
Trem fora dos trilhos
Bússola que nunca encontra
O rumo
O norte a ser seguido
Ainda bem que estamos salvos
Dos furacões Furacão Sandy
E Catarina
Pois não é possível
Que eu tenha vindo de tão longe
Pra não ver o pôr do sol
Na serra de Itabaiana
Desconjuro
Nunca me vi tão longa
Languidez de poesias nordestina
Pra refletir o beijo da mulher aranha
Defeitos de eternos namorados
Neste nosso tempo
De mundo cão
Com quem tenho aprendido a não reclamar
Sempre buscando desvendar os segredos do caminhar
Mesmo sem bússola de onde chegar
Sou parente de um sonho sofrido
Nunca perdido
Quando minha alma em desatino
Pede-me silêncio
Pra encarar a tempo fechado
Apesar de minha calma aparente
Estranhos excessos de alegria se assanham
Por estas resenhas manhosas
Do mundo das cores do céu
No linguajar do sonambulo entardecer
Embrulhando os sonhos pequeninos
Pois quem sabe
Já é chegada hora de ninar bebe
E mandar as galinhas pra dormir
Enquanto eu
Vou ali var as quantas andam
As cidades utópicas
Não sujeitas aos tsunamis
Ou temporais de trovadas
Trazendo ondas
De paus
Pedras e garrafas pets
Contribuição social
No entupimento de canais
E bocas de lobo
Enquanto a cidade só lamenta
O último barraco que caiu




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