,saturam-me

Data 02/11/2012 03:13:10 | Tópico: Poemas

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saturam-me o dia indeciso, a lua,
qual buraco amarelado em De sterrennacht,

esta loucura que se esvai, definha,

as cartas de amor e quem nunca as teve,
as palavras que não saem, entopem, engasgam-me,
que provocam vômitos de sangue, ou de vinho tinto,

satura-me a foda que não dei,

o nojo, o grito.

satura-me esse alguém que se quer ninguém,

esse ninguém que se diz uno, indivisível,
que Job questionou,

a mesa de poker envolta pelo fumo dos cigarros queimados,
o vício, a presunção da água benta, a morfina,

saturam-me

as noites perdidas que se julgavam desvendadas,
embriagadas,
as manhãs pelas tardes a dormir,
(a barba por fazer).

e tantas vezes me saturo de mim que me satura o pensar,
a verve,

suturo a pele das cicatrizes abertas que me saturam
nestes perenes murmúrios, inacabados.

(I)

(intermináveis...)









De sterrennacht (A noite estrelada) pintura de Vicent van Gogh.
do Livro de Job:
“Se me deito digo: Quando chegará o dia?
Se me levanto: Quando virá a tarde?
E encho-me de angústia até chegar a noite”

Textos de Francisco Duarte




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