Com ciência
Data 02/11/2012 10:55:42 | Tópico: Poemas
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Paredes pintadas. Negro-carvão raspado na parte central, mais borrada. Por cima, desenhos de gizes, matizes de outras cores. Desenhos de macacos. Coloridos. Corroídos pelo fermento tempo. Respondo tudo isso ante o mando que interroga: o que vejo quando fecho olhos? Imaginejo. Porque imagino que vejo ou vejo na ausência da coisa vista, coisas que são só coisas por terem função em mim, por conceberem-me lócus para que passem variáveis independentes, em mim, totalmente dependente delas, múltiplas, multidimensionais. Conexos estalos de instantes, eles sim, responsáveis por tudo. Fico aqui livre sem pré ocupar-me em destino ou coisa tal. Apenas preocupo-me em observar a mim e as variáveis, variantes faíscas de eu pensar que me conheço. Também me escapa qualquer culpa. Não cabe culpa em lócus, em espetáculo perfeito, tragicomédihorror das variáveis. Macaco diligente. Macaco quase gente. Gentio. Gene do tio de outrora. Epigenético. Um corpo todo, complexo e orgânico, um palco natureba cheio de poder a ser e porvir, e apodrecer, a depender delas, sempre presentes, constantes inconstantes, variáveis-instantes. Eu fico além da liberdade e da dignidade. Eu fico ubermeinschen. Eu fera demasiado ferido, zaratustrado de cantar a todo canto: - Não conheces a ti mesmo! O outro te conhece e te diz como é. Por isso a carência, a necessidade, a urgência emergente de vagar pelas cidades em sombra de tropas de gentes nem sempre gentis que te dizem: feio gordo bonito magro esquisito qualquer-coisa Um mico! Macaco! Eu não escrevi esse poema, ele aconteceu. Por minha mínima culpa, por minha máxima com ciência.
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