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O dia segue voraz nas horas que calcorreia, Sem tempo para olhar as horas que se passaram, Tempo só para viver o tique-taque impiedoso Que lhe dá forma, mede-o em pálpebras sonâmbulas, Num ranger de travões que lhe tenta parar a marcha. As rugas testemunham-lhe o caminhar indiferente, Dão-lhe forma e consequência. Em cada quarto que dobra, A torre presta-lhe a homenagem Em jeito de toque a fiéis defuntos, Dolente mas impaciente. É uma marcha sem destino, Um hino sem heróis. Só a cantilena que rasga o silêncio invernoso E verte a lembrança de mais um que passou. O osso vai sulcando a pele macilenta do esforço, Dobra-se a espinha à enxerga que oprime, Mais pesada, Quarto a quarto… Hora a hora… Dia a dia…
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