Para me lembrar de quem um dia fui
Data 02/11/2012 22:44:12 | Tópico: Poemas
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Abro o livro do tempo perdido na página branca que resta da erosão mórbida dos crepúsculos e volto aos parágrafos antigos onde a luz cintilou um dia procurando as sílabas esquecidas que a memória tenta refazer num assombro de primaveras coaguladas.
Debruço o corpo tolhido sobre a espiral nervosa dos relógios seguindo os ponteiros lentos do destino e o sortilégio anónimo dos ventos na única janela onde encaixa a agonia do meu rosto desfigurado e no vazio das manhãs adiadas convertidas agora nas mortalhas do breu que vela o silêncio dos pátios corrompidos.
Nos folhos sombrios da névoa procuro ainda a cor amordaçada de fugazes e transparentes sorrisos consumidos nos retratos da infância e o eco da recordação fumegante de um tumulto de estrelas incandescentes para me aquecer no clarão desse incêndio e me lembrar de quem um dia fui.
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