Trilogia da rosa
Data 26/11/2012 14:15:00 | Tópico: Poemas
| (batom rosa)
É hoje.
No jardim de sempre, à hora sonhada, espero-te, quase rosa, para dar-te o meu beijo, o primeiro beijo em sede guardado.
Rosa rosa não acontecida ainda, em casto recolhimento ainda, acordo a cor, aliso as pétalas, afasto as sépalas, retoco o batom rosa e prometo-me flor. À hora marcada, no jardim de sempre, o teu olhar prende-me e eu solto-me, desaperto o botão, abro-me em lábios róseos molhados de orvalhos já matinais, ainda inocentes. Rosa virgem, Desabrocho, pronta e curiosa. - Rosa rosa, em espera do primeiro beijo de sol da Primavera...
(batom rubro)
É hoje.
Espero-te. No jardim de sempre, à hora marcada, rosa inteira, anseio por dar-te o beijo vital, o mais demorado, o beijo carnal...
Rosa rubra, aberta e lasciva, excedo-me em seiva, exsudo o desejo de tocar-te o fogo em fluidos fulcrais, e abro-me, em lábios de carne e seda retocados a batom vermelho. À hora marcada, no jardim de sempre, o teu olhar prende-me, e eu sirvo-me, rosa rubra, em licor e cálice, perfume e espinhos, que cravo, em prazer, nas tuas carícias... Intensa e inteira, desabrocho, em paixão. - Rosa rubra que se entrega plena, ao viril beijo do sol de Verão...
(batom roxo)
É hoje.
Resisto. No jardim de sempre, sem hora marcada, definho e espero-te, na ânsia de colher-te um beijo, o mais precisado, o último beijo.
Rosa roxa, em declínio de lágrimas, choro as pétalas, seguro nas sépalas os restos de mim. E em orgulho ainda, erecta ainda, retoco de roxo os lábios já secos, ensaio no vento uma valsa romântica, afasto o cálice, e dos restos de sol já rente embriago o hálito. Rosa roxa, mas rosa ainda, dispo em discrição a intimidade e espero que o beijo, o último beijo do meu sol de Outono, me dispa em abraço, me tome nos braços, docemente... - Rosa roxa, exangue, aguarda que o frio da chuva de Inverno tarde, tarde...
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