
Também
Data 02/12/2012 09:13:20 | Tópico: Poemas
| Também deste poema se morre letra após letra o som inteiro e intenso da palavra que cria rios e desertos e miragens grises como o meio da noite onde o poema descreve arabescos e o agora dissolve os segundos na farsa do tempo que é morte Também destas horas se fartam o incandescente amargor coleante da areia escorrendo amarela como um rio ruminante entre o passado soturno e o futuro incognoscível que nos mantêm de joelhos há 512 anos Também nas madrugadas se chora o choro longo ou breve como chora o rio fora do seu leito um choro que se pensa infindo que se chora até se adormecer no engano e na absorta cachaça do sono onde dormem os olhos incompreendidos da infância que nem você conseguiu consolar trazendo a flor ébria e a cinza neblina que se esvaneceu deixando a primeira palavra do poema sem resposta Também se vive a contemplar o mundo constrangido náufrago anacoreta a estacar diante das reticências da vida a mergulhar no espesso lamento da dor das guerras profetizadas nos gabinetes incesto e morte e o desespero natimorto da platéia diante da face do medo diante do cansaço da espera exilada e da ausência de perguntas enredadas na vontade empoeirada de quem, sequer, vê o muro Também de fome se vive de sonâmbulas bocas esquecidas esperando o pão nosso de cada dia ardendo em febres e esperanças forretas Pai, perdoai a nossa inércia assim como nós perdoamos a quem nos tem debicado não deixeis cair o parco pão no chão conspurcado pela nossa apatia e pela nossa "candura" livrai-nos dos néscios e da submissão Amém
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