
“Atlanticidade”
Data 16/12/2012 14:18:39 | Tópico: Poemas
| I
Há um oceano Que separa as margens do silêncio Em cada descoberta emergente Onde os cascos das caravelas Solidificaram um espaço Hoje fora de todo o tempo
II
Há um navegar precioso Ultraje de tantas contendas Na interferência de tantos ideais Numa junção incompleta Jamais aceite pelo mundo Aos olhos das cruéis tormentas
III
Há um encontro de esperança Ateado pela insegurança E pelos prémios da revolta O sentido único é a baía No albergue de tantos navios Portadores da mensagem
IV
Há esse mar tão profundo Que Camões tanto exultou Na palavra da envolvência Ai grandioso Portugal Que te ultimas no desencanto Em que abandonas tuas ilhas
V
Há um caminho marítimo Nas preces dos marinheiros Que se perderam no tempo Olvidado por tantas gestas Na troca vil da ganância Que as levou para outros mares
VI
Há um Atlântico perdido Em tanta imensidão Onde a história já pernoita Águas de tantos segredos Vitórias de muitos contrastes Que a memória dissipou
VII
Há o mar da coragem Mensageiro da ribalta Num apogeu de um abraço Que nas falésias embate O pulsar de suas ondas Com tanta sofreguidão
VIII
Há a separação nesse mar Onde se une toda esperança No encanto de cada chegada A partida noutro instante Torna a dividir no vazio Cada culminar da união
IX
Há um preceito na origem No âmbito de cada destino Como mito da descoberta De João e de Tristão Imbuídos pelo esplendor De ver terra no Atlântico
X
Há uma pérola oceânica Num Atlântico de virtudes Onde a ponte é espontânea Tal como o Continente anseia Pelo caminho mais fraterno Rumo à Ilha da Madeira
António MR Martins
Nota: - Este trabalho foi elaborado a partir de um convite, que me foi feito, e entregue aos CEHA – Centro de Estudos de História do Atlântico, a fim de fazer parte do conteúdo de uma obra a ser publicada no final de 2011, sobre o Atlântico e a Ilha da Madeira, no seu interagir com o Continente, mediante determinados conceitos e pressupostos que, antecipadamente, me foram apresentados. Por dificuldades financeiras não chegou a ser editada, como tal, e com a devida autorização, aqui estou a publicá-lo, na íntegra, divulgando-a.
|
|