
Tempestade humana divina. (Tu)
Data 17/12/2012 21:06:02 | Tópico: Poemas
| Ouço o mar. Sinto no rosto o gosto a maresia Tenho a saudade encardilhada no cabelo. Por entre os dedos dos pés Incomoda-me a areia molhada. As aves voam pra outro lado. Vejo que se aproxima uma tempestade, Há nuvens negras no horizonte. Algures já no meio Desse húmido nevoeiro E dessa raiva divina contida Navega um pescador já muito velho E já sem terra... Sou eu que te procuro. Algures numa história Que hei-de inventar só depois.
A água vai e vêm; Leva e trás. Sempre algo, sempre nada. Sempre diferente e novo; Sempre igual ao velho novo. As ondas dançam. Chamam por mim, E nem sabem meu nome! Avanço um pouco mais, O mar retrai... O mar avança... E retrai novamente... É tímido. Está fria a água, Mas é quente senti-la Tocar em mim Entrar na minha pele, O sal estala-me as feridas. Sinto-me vivo. Avanço mais um pouco.
As ondas chegam-me aos joelhos. Sentia-me tentado a mergulhar. Tudo chama por mim! As ondas, O vento, O sal, As aves, Tu. Tu és a tempestade; Tu és a raiva divina, Humana contida em mim. É por ti que navego no mar É por ti que avanço ao afogo de mim. É por ti que tropeço nas esquinas. Nas calçadas do passeio. Cada viagem é uma corrida Cada passo é uma meta Paga chegar onde estás. Onde navegas perdida Na tempestade de emoções que escondo.
Deito-me. A água cumprimenta-me em pleno. O sal faz-me arder os olhos A dor faz-me arder a solidão. Tenho água nos ouvidos. Areia nas costas. O mar em mim... As ondas crescem, A raiva diminui. Fecho os olhos Desapareceu o mundo. As certeza de todas as perguntas Que eu nunca tive coragem de fazer. Ficas apenas tu E a água nos pulmões. O mar em mim. A tempestade humana e divina A raiva contida com o teu rosto. Afogo-me em mim. No mar. Em ti! A tempestade tem o teu rosto.
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