
ESTUÁRIO DA ESPERANÇA
Data 04/12/2007 12:59:56 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| ESTUÁRIO DA ESPERANÇA
A bruma do fracasso sustém e pavimenta a estrada do meu coti- diano. Contemplo quase inerte o curso da vida fluir bem próxi- mo de mim, embora nunca consiga de fato embarcar em seu convés. Não, não que eu tenha a pretensão de intendê-lo, domar o seu leme ao meu bel-prazer, não! Apenas queria estar presen- te a todo o roteiro da viagem: do começo ao fim.
Mas o quase, o quase sempre impertinente não me deixa nem sequer partir. Então, engendro formas de lográ-lo; mas lá está ele, toda mão, um passo á frente: a me comediar caudalosamente.
Ele me alimenta a idéia, me faz erigir templos indicativos: castelos de certeza. Todavia, toda feita, qual não é a minha surpresa. Descubro-os matéria inerme, insólida, tênue. Não, não são alcáceres de rocha os meus castelos. O são de areia. Areia cujo leve sopro despretensioso faz com que ela se desmanche inteira.
Sim, depreendo claramente agora. O meu caminho é água em ebulição: ele ferve, ferve, ferve até o sonho formar vapores, que se dispersam para longe, longe do alcance da minha tátil concreção. E a estrada: a estrada se transmuda plenamente em vácuos inteiros de asfalto da saudade daquilo que quase houve. Sim, ela se converte na malha viária da abortagem: sim, me refiro áquela traiçoeira das engrenagens da desilusão!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA barbosia@zipmail.com.br
|
|