Alfaiate sem medidas

Data 19/12/2012 20:30:00 | Tópico: Prosas Poéticas





chegaste de repente, roubando-me os brinquedos, costurando-os num invólucro de seda colorido, pra devolver-me em seguida,como um tesouro caro e querido pra nunca ser esquecido.

pegaste-me pela mão e me fizeste rodopiar em vaidades, vestiste-me de princesa com promessas de príncipes encantados.

construiste um espelho em grandes dimensões que refletia meu andar, as estratégias do olhar, as poses inventadas pra conquistar... visualizei-me na imagem invertida, com planos e também muitos prantos... montastes espelhos dentro de outros espelhos.

chegastes sim, de repente... apresentaste-me sonhos e também desenganos provados ante à primeira fantasia...levaste-me a campos de flores que inebriaram cegando-me pra espinhos. quando enxerguei, presenciei-me em trapos...

foram tantos retalhos que remendastes com carinho, num âmago de aprendizado, entremeados de bordados de exclamações e interrogações, pelos sobressaltos de alegrias, espantos, dúvidas e decepções.

ficastes, todos esses anos, cosendo rapidamente, este pano, entre intensos momentos, que na pressa, linhas se soltaram e agora, este cosido pede reparos...

peço-te, re.alinhava vagarosamente e com cuidado este tecido já corroído de vitórias e derrotas... sobrevivente de tantas costuras desmanchadas.

quando o último fio já houver rompido, em definitivo, elabore um sache de tudo o que foi vivido, fazendo-me de exemplo confeccionado por ti, alfaiate que se chama: TEMPO



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