CHANSON D'AMOUR

Data 20/12/2012 18:19:30 | Tópico: Poemas -> Amor




CHANSON D'AMOUR


Quando fui bailarina
e rodopiava ao teu redor na ponta do coração,
acreditava nas seis margaridas brancas
que pousavam em meus cabelos
obscenamente curtos.

Você sorria,
sorria queimando no fogo
da minha música e os nossos pés
não se encontravam porque
os meus estavam sempre nas mãos do ar:
era quase insustentával a leveza
do meu ser.

Minha saia vermelha esvoaçante
cobria o teu mais distante olhar
mesmo nas manhãs em que não havia
adágios ou piruetas. Eu era única
e bela porque teus olhos faziam-me
mais do que assim.

Você revelava-me o que eu era
e eu tinha menos nomes do que
tenho agora. Eu coreografava a vida
e morria de sinestesia,
de poesia, de coisas estranhas
e perdidas.
O infinito dançava comigo
porque eras, porque sempre serias.

E enquanto o dia quebra
dentro das minhas sapatilhas já
cansadas, ouço a mesma canção,
contemplando a delicadeza
encantada do meu antigo segredo
e ela ainda fica nas pontas
dos pés sonhadores, flutuando
ao redor do ontem e como
tudo que nunca acaba,
morre ainda de amor,
morre ainda de tanta vida.


Karla Bardanza




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