Quando fui bailarina e rodopiava ao teu redor na ponta do coração, acreditava nas seis margaridas brancas que pousavam em meus cabelos obscenamente curtos.
Você sorria, sorria queimando no fogo da minha música e os nossos pés não se encontravam porque os meus estavam sempre nas mãos do ar: era quase insustentával a leveza do meu ser.
Minha saia vermelha esvoaçante cobria o teu mais distante olhar mesmo nas manhãs em que não havia adágios ou piruetas. Eu era única e bela porque teus olhos faziam-me mais do que assim.
Você revelava-me o que eu era e eu tinha menos nomes do que tenho agora. Eu coreografava a vida e morria de sinestesia, de poesia, de coisas estranhas e perdidas. O infinito dançava comigo porque eras, porque sempre serias.
E enquanto o dia quebra dentro das minhas sapatilhas já cansadas, ouço a mesma canção, contemplando a delicadeza encantada do meu antigo segredo e ela ainda fica nas pontas dos pés sonhadores, flutuando ao redor do ontem e como tudo que nunca acaba, morre ainda de amor, morre ainda de tanta vida.