À Beira Mar

Data 04/12/2007 21:24:46 | Tópico: Contos

Enquanto mexia na areia, Lara lembrava-se daquele dia, uns anos antes, em que, numa outra praia, tinha conhecido Carlos.
Estava a apanhar uns banhos de sol com as suas amigas de ocasião, quando um grupo de rapazes sentou-se por perto, com a música a tocar.
Incomodadas, resolveram ir tomar um banho. Como a água estava fria, ficaram à beira mar a conversar até que um dos rapazes resolveu passar por elas, salpicando-as. Elas riram-se e voltaram para as toalhas.
Nos dias que se seguiram, Lara continuou a ir à praia e o mesmo rapaz também. Sentava-se sempre por perto, quando ela ia tomar banho, passava por ela e salpicava-a. Até que chegou o dia em que Carlos ganhou coragem para lhe falar. Era o último dia de férias de Lara... Trocaram telefones, moradas e prometeram manter o contacto.
Nos meses que se seguiram, Carlos e Lara escreveram-se quase todos os dias. Sobre eles, sobre os amigos, sobre a escola...
Foi por carta que o amor entre os dois começou a nascer, e foi também por carta que começaram a namorar.
Apesar da distância que os separava voltaram a encontrar-se. Nesse dia, quando se encontraram e os olhares se cruzaram, todas as dúvidas que poderiam ter dissiparam-se.
O namoro que tinha nascido por carta, tornou-se real.
Ao lembrar aquele primeiro beijo, do seu primeiro amor, Lara sorriu, por entre as lágrimas que deitava.
A distância que os separava não impediu que o namoro continuasse. Quase sempre era Carlos que ia ter ela, já que ele tinha deixado de estudar e estava à procura de emprego. Continuavam a escrever-se… era a maneira que encontravam de passar os dias quando não estavam juntos.
E foram passando os dias… os meses. Durante 2 anos Lara e Carlos namoraram, a felicidade sempre estampada no rosto dela. Carlos tratava-a sempre com carinho e ternura. Lara tinha encontrado o homem com quem queria passar o resto dos dias…
Naquele dia Lara abriu o correio e tinha uma carta. Estranhou, a letra não era conhecida, mas era para ela.
A carta, assinada por Ana, era simples. Um pedido. Para que Lara saísse da vida de Carlos porque ele namorava com a Dulce, irmã de Ana, na cidade onde viviam os três. Ana explicava ainda que a irmã não sabia do que se passava e que tinha descoberto o romance de Carlos com Lara porque o tinha seguido até à cidade onde Ana vivia.
Todas as ilusões de Lara foram destruídas. Sentia um grande amor por Carlos mas só fazia sentido se fosse correspondido, se Carlos sentisse o mesmo que ela.
Enquanto relia a carta, sentada na praia, tentava perceber como é que podia ter sido enganada daquela maneira. E chorava… chorava pelo amor perdido, pelas ilusões que tinha criado, por se sentir enganada.
Lara era determinada. Não iria deixar que Carlos percebesse o quanto a tinha magoado. Não lhe permitiria, nem por um segundo, desconfiar que ela sabia do que se passava.
Com esforço, mas resolvida a fechar este capítulo da sua vida, levantou-se, secou as lágrimas, e foi ter com Carlos que a esperava no café ao pé da estação dos comboios. Conseguiu, durante esse dia, que seria o último em que estavam juntos, fingir que estava tudo bem.
Quando se despediram combinaram novo encontro para uma semana mais tarde. Sem perder tempo, logo que Carlos se foi embora, Lara escreveu uma carta a Ana a explicar-lhe que nada sabia da vida dupla de Carlos e que iria deixá-lo. No entanto achava que, tal como ela tinha sido enganada, também Dulce estava a ser enganada, e iria ser enganada várias vezes. Propôs-lhe então dar uma lição a Carlos, para que ele percebesse que tinha sido descoberto.
No dia combinado, Carlos saiu do comboio na estação e dirigiu-se ao café onde, habitualmente, se encontrava com Lara.
Quando lá chegou encontrou Lara e Dulce, sentadas à mesma mesa. Ainda tentou explicar-se mas as duas estavam decididas. Levantaram-se e, sem se despedirem, saíram do café e da vida dele.
Cá fora, enquanto falavam sobre a situação da qual tinham saído, foi nascendo uma amizade que haveria de durar por muitos anos.


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