UM BEIJO TEU
Data 31/12/2012 21:11:21 | Tópico: Prosas Poéticas
| . UM BEIJO TEU
Havia um tempo em que teus olhos Efetivamente não me olhavam... Simplesmente refletiam estupefatos, Tua singela admiração... Não me enxergavas, não! Tu me idealizavas. Experimentavas-me com exaltação. Achavas-me desafiador, imprevisível, Impenetrável, errático... Talvez eu fosse para ti um tipo de balão mágico, Plainando no espaço da plena imensidão... A miraculosa nave aterrissou... Tuas impressões, ao poucos, se assentaram Conheceste-me o lado fraco, desassistido, Desnudou-me como realmente sou... Meus defeitos boquejaram alto, gritaram-te. Como seria o efeito normal, de fato. Desde aí tu me fitas Como uma “coisa” específica; não-viva: Um abajur piscante, um armário lotado, Uma casca de limão azedo, um vidro de azeite... Fugiu-te completamente O resplender das pupilas, cessou em ti o deleite... Creio que te lamentas, por dentro, Ao reconheceres que preferias Que eu continuasse aos teus olhos Aquele inalcançável par perfeito Agora, deploras meu jeito... Não por estar eu aquém de teus desejos Mas por teu devaneio ser mais disparatado Que meus factuais feitos Desvaneceu-se o conceito de imaginares-me... Tu precisas do mistério, bem sabes... Para isso, buscas um novo, Provocador e desconhecido brinquedo Internas-te no delírio de que existe fora de ti A perambular pelo mundo um ser homérico Merecedor de teu amar, digno do teu respeito... Que seja profícua tua busca... Bom proveito. Eu, ao contrário, para ser feliz, Só preciso de um mísero beijo teu... Pois dessas pequenas fraquezas sou feito De um quase nada. Eis o meu fervor ateu...
(Gê Muniz)
|
|