Brachycera ou A(s) Mosca(s)

Data 05/01/2013 19:48:35 | Tópico: Poemas

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A mosca
e sua paixão
pela fresta
da janela que abro.
Nunca tenho sopa,
ela nunca pousa.
A mosca passeia
em zumbido árido
pelo cubículo-lar.
A mosca enxerga
linhas divisórias etéreas
e outros prismas.
Baila colorida
no meu ar.
Ai dos insetos!
(que invejo menos)
mas invejo pouco,
por poderem voar.
Ai de sua pequenez
diante da minha
maioridade aerosol.
Quando aponta
na fresta,
mentalizo a mensagem
e envio
ao astronauta-mosca.
Não há sopa,
não há pouso,
não há paciência
para seu ganir
em zum.
Zumba!
Zabumba!
Zumbaio você,
mosca,
e peço que vás,
pela fresta, de ré
ou em festa,
antes que eu
determine sua sina,
sentença de morte.
Maldita sejas,
por não ouvires.
Eu, D-limoleno,
Rayd, protector
em meu zum
artificial e letal,
embriago-a,
mosca.
Zabaneira barata
por odores,
danças no olor
de laranjais,
a fragrância
do fabricante.
Sua morte flagrante
nesse mesmo ar
meu.
Enveneno-a
e homeopaticamente,
a mim.
Mosca de matar-me
de raivas ancestrais
de seus pousos conspiratórios
nos pires do meu oratório.
Acompanho
sua última dança
mais zumbida que nunca,
viras kamikaze
e joga-se brutalmente
no meu quadrado chão
e giras
enlouquecida
como se risse
em zum contínuo,
quase cigarra.
Morres.
Fito o quadro funerário
e a carcaça já não jaz;
nunca acho os corpos
delituosos.
Em ossos,
Raul lembra que se mato
mosca
outra vem,
de algum lugar.
Eu digo,
vem do além.
É a mesma mosca
a voltar.
A mesma ancestral
da sopa genética
milenar,
do mar de onde saí.
A mosca evolutiva,
mentecapta,
reencarnada
e aflita para vir,
ir,
voltar
e dizer em zum:
- não adianta -
zurzindo ziquiziras.
Mosca necrófila
fiando a fila do meu azar.
Animalia
Insecta
Desinfeto-a,
enquanto
posso.
Volte
enquanto puder,
Cumpra-se a sina,
tua, mosca,
e minha.

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