Sorrisos anorexos

Data 07/01/2013 13:49:10 | Tópico: Poemas

Meus amigos venderam suas almas
- não para o demônio, que seria mais digno –
Mas para pequenos capitalistas de céu e calabouço
Que mercantilizam epopeias surreais.
Eram bons homens aqueles.
Bravas mulheres, também vi, trocando seu riso
Por algumas vestimentas e horas de delírio
Em pequenas boates escumando escórias.

Sinto-me sozinho, mas conservo a dúvida.
Não entreguei meu gesto, nem o poema,
A nenhum suserano marrom
Que panfletava o firmamento em pequenas sodomias.
Minha envergadura amoral permanece estática
Diante dos alforjes de deuses de bronze e vergonha
Cujas barbas trituram milhões de trovadores.

Olhe, meu bem, o mundo está morto!
A vida é uma dançarina paraplégica imaginando passos
Em sua sala vazia.
Tenho lido obras completas de poetas miseráveis
Cuja dor é amiga e brinda cálices comigo.
Revejo velhas fotos e desconheço rostos
Que figuram anorexos sorrindo dentes podres.
Quero uma dor antiga para morrer em paz.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=238999