É hora do calendário, é hora.

Data 16/01/2013 00:36:19 | Tópico: Poemas

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Há tanto o que fazer
e o dia já vai
jazer.
O dia
acaba-se
e acaba-me
para que pense
que quero dormir,
fechar os olhos
e esquecer do dia.
Recém nascer
outro dia
igual
a outrem,
igual ao ontem.
O calendário conta
cotas de dias,
transforma minha vida
em pedaços de sol
e lua,
pedaços claros,
cacos escuros,
de lâmpadas,
apagadas agora
mas acesas
ontem.
O calendário conta
alguma coisa,
um amontoado de coisas
que chamo de vida.
O calendário dá-me
rugas.
A célula mais velha.
A célula impossibilitada
da mitose.
O mito da célula
aos pedaços,
descabelado.
Folículos,
alopecia...
É a verdade no espelho!
É a verdade nos cabelos brancos
ou idos
de qualquer calendário.
Há tanto o que fazer...
Há tanto eu pra ser.
Há tanto sonho pra sonhar
e ficar lá
no sonho
sem nunca vir pra cá,
altar da minha mão,
no ato,
na produção...
O dia acaba.
Sobrevivo.
A cama
que me espera
talvez seja a solução
imediata.
Dormir é como morrer vivo,
é um estágio probatório,
pro sono final,
pra calmaria,
pra maré baixa de
qualquer dia,
pro tempo sem calendário
pro tempo sem tempo
pralém do tempo...
Suspiro
e espero
o dia ir-se.
O amontoado de coisas
que fiz,
além de sobreviver...
Quando chega o fim do dia.
O fim há de ser claro
ou escuro,
mas dia mais,
dia menos,
dias normais,
dias amenos,
é fatal.
Há no calendário,
um espaço,
para a data final.

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