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Há tanto o que fazer e o dia já vai jazer. O dia acaba-se e acaba-me para que pense que quero dormir, fechar os olhos e esquecer do dia. Recém nascer outro dia igual a outrem, igual ao ontem. O calendário conta cotas de dias, transforma minha vida em pedaços de sol e lua, pedaços claros, cacos escuros, de lâmpadas, apagadas agora mas acesas ontem. O calendário conta alguma coisa, um amontoado de coisas que chamo de vida. O calendário dá-me rugas. A célula mais velha. A célula impossibilitada da mitose. O mito da célula aos pedaços, descabelado. Folículos, alopecia... É a verdade no espelho! É a verdade nos cabelos brancos ou idos de qualquer calendário. Há tanto o que fazer... Há tanto eu pra ser. Há tanto sonho pra sonhar e ficar lá no sonho sem nunca vir pra cá, altar da minha mão, no ato, na produção... O dia acaba. Sobrevivo. A cama que me espera talvez seja a solução imediata. Dormir é como morrer vivo, é um estágio probatório, pro sono final, pra calmaria, pra maré baixa de qualquer dia, pro tempo sem calendário pro tempo sem tempo pralém do tempo... Suspiro e espero o dia ir-se. O amontoado de coisas que fiz, além de sobreviver... Quando chega o fim do dia. O fim há de ser claro ou escuro, mas dia mais, dia menos, dias normais, dias amenos, é fatal. Há no calendário, um espaço, para a data final.
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