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 Depois da chuvaData 20/01/2013 10:52:22 | Tópico: Poemas
 
 |  | Depois da chuva a tarde se fez dourada O sol debruando em vermelhos o vento que passa
 E canta
 Canta a canção
 E entoa os versos candentes da ausência
 Suspeitando do sentido da vida pouca
 Da pouca vida
 Dos parcos passos miúdos e urgentes
 Cantam os pássaros outras razões
 São melodia e compasso da tarde que se farta
 De cores e sons e incandescentes vermelhos
 A tarde flana na quietude dos jardins
 E na presciência das flores nos jardins
 Está tudo tão quieto...
 Tudo tão longe
 Este silêncio sem voz
 Estes segredos agonizantes no ar
 Esta pele perfumando a vida em volta
 Esta esfinge que me inquiri incansavelmente
 Estes caminhos remotos
 Onde já não me sei
 Quando já não me sou
 Fecho meus olhos cansados de não ver
 E sinto o ar difuso no labirinto das perguntas sem respostas
 Respostas que não há ou, se houver,
 São grades e colunas a sustentarem
 As prisões erguidas sobre os campos de crenças e ilusões
 Nada existe independente da sombra e da luz
 Tudo é sonho e engano fora do Amor
 Mara é o sonho vígil
 De onde só há uma porta para a fuga
 Arde no horizonte o sol poente e o enigma de todos os dias
 Minhas mãos fugidiças
 E úmidas da mais plena solidão
 Selam os lábios à memória dos olhos negros
 Que desde cedo me fitam
 Que desde sempre me têm
 Olhos que o amor primeiro pôs no barquinho de papel
 Rumo à ilha que emerge nos pingos da chuva
 Rumo às sombras abandonadas de uma vida pouca
 Sentimentos poucos
 Muitos medos
 A ilusão que baste
 Mas há a renitente expressão do amor
 Ou do que fizeram dele
 Há a indelével sombra do mar
 A sombra do mar é o que as palavras não são
 Sinto saudades do cheiro do mar
 Da maresia
 O intangível mar desenhando agonias na areia
 Ouço o mar esbatendo os vermelhos da tarde
 Ouço aqui, sozinho, a canção da tarde calma
 A tarde é o momento cravado no vazio de um tempo ignoto
 É pouca para o destino que os dias roubam ao eco dos caminhos
 E é pouca a tarde para tanto amor
 É pouca a tarde para o carinho
 É pouca a tarde
 Vaga e alheia
 Escondida entre palavras distantes e dissimuladas
 Encoberta pelo véu da indiferença
 Onde o que eu sou é quase nada
 Não fosse esta rosa branca no jardim
 (Que só existe e floresce dentro de mim)
 
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