A pedra e eu

Data 08/02/2013 18:27:30 | Tópico: Prosas Poéticas

*****
Esta pedra que me dá assento, se pudesse falar o que diria do rio passando?
E de mim, o que iria falar? Que sou ingrata e egoísta por tantas vezes
a haver requerido para meu anteparo, submetendo-a aos meus devaneios
e lamurias, sem nunca a ter percebido, a cada dia, mais polida, servindo
de encosto a tantos solitários?
Mas, o que há de se falar da pedra?
Nada tenho a dizer...
Sinto-a fria e um tanto escorregadia... Apenas.
Do resto, pergunte ao vento que, a lapidando,
acariciou todas as faces e é dele a arte.
Esta pedra nunca foi meu substrato e não
dediquei-lhe um único verso...
E agora, analisando-a, foge-me as palavras.
Neste aspecto temos algo em comum;
quando é de mim (a falar), também não encontro
o fio para puxar o discernimento.
Da lua e mar,
do céu e nuvens,
já relatei absurdos.
Da noite e seu sereno
orvalhando a flor...
Já fiz versos de amor.
E do amor, se extraí (algum dia) emoção,
já estava obsoleta.
Mas dele também pouco tenho a dizer...
E de mim... menos ainda.
Não sou verso e prosa
E tampouco palavra.
Sou rascunho levemente
Rabiscado num rasgo de papel...







Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=241165