PARA NÃO ESQUECER...

Data 21/02/2013 00:27:51 | Tópico: Crónicas

No dia 22 de agosto, á mais de 60 anos, Getúlio Vargas proclamava oficialmente a participação dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial. Fazem mais de 60 anos que o mundo viveu um dos seus grandes pesadelos quando tornou-se palco das maiores atrocidades cometidas pelo ser humano contra o seu semelhante.
As imagens ainda hoje chegam até nós, mostrando os horrores de que a nossa espécie é capaz: campos de concentração, câmaras de gás, experiências usando seres humanos como cobaias...
Como filha de um expedicionário que participou da guerra e viu de perto os seus horrores, quero trazer esta lembrança (cruel), porque o ser humano costuma "esquecer" a sua História, para depois repetir tudo de novo, no que há de pior nela.
Depois da guerra, meu pai tentou - de todas as formas - transmitir a nós, seus filhos, o sentimento de Humanidade que nos faz irmãos de toda a espécie humana. Nos fez compreender que falar uma língua diferente ou ter costumes diferentes não precisa necessariamente nos tornar inimigos uns dos outros. Ele nos falava que, com o passar do tempo apareceriam novos fatos envolvendo esta guerra, e que algumas fontes iriam dizer que "as coisas não foram bem assim". Mas, nos alertou sobre o que é realmente uma guerra: um monstro que escapa do controle e que não respeita qualquer limite de crueldade, porque significa a superação do lado irracional do ser humano. Não há lei, não há instituições, não há defesa para o povo, que sempre é o lado mais fraco no meio de duas forças em luta pelo poder. Ódios e vinganças pessoais são trazidos à tona, e o ser humano vira fera. Velhos, doentes, mulheres e crianças são as maiores vítimas dos horrores que, em tempos normais são controlados no íntimo do ser humano, através das leis e de uma certa ordem estabelecida. Em tempo de guerra ninguém respeita ordens, não há regras, não existe um lado inocente e outro culpado.
O ser humano quando fica cruel e vingativo em tempos de paz já é capaz de causar danos terríveis ao seu semelhante, quando a violência predomina, então, nenhuma dignidade é capaz de resistir.
Num tempo mais recente, a televisão nos mostrou novas imagens de campos de concentração, que não eram de 60 anos atrás,: imagens atuais, de uma guerra moderna. Novamente aí estão os campos de concentração. Novamente aí está a fera.
Não podemos esquecer a guerra de 60 anos atrás, não podemos esquecer as imagens de pessoas sofrendo por causa de guerras em qualquer parte do mundo.
Se esquecermos, um dia seremos capazes de repeti-las também, como se a violência e a crueldade fossem realmente o único destino da espécie humana.

Saleti Hartmann
Professora e Poetisa
Cândido Godói-RS
(Texto publicado no livro MENSAGEIROS DO FUTURO. Lançado em nivel local no ano de 1994).


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