Herança

Data 26/02/2013 23:30:11 | Tópico: Poemas

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Herança




Um dia irei embora,
Talvez amanhã, quem sabe,
Não sei a hora.

Mas deixarei aos vermes
Minha prótese,
Já muito gasta pelo uso.

Algumas veias entupidas,
Um estômago
Inutilizado pela úlcera
E um pulmão, pelo cigarro.

Deixarei um coração
Aborrecido e alquebrado,
Que é bem melhor
Se não for doado.

Por fim,
Deixarei esse belo cabide,
Meus ossos em plena anorexia,
Que não será admirado
E não terá, no futuro,
Nenhuma importância arqueológica,
Nem familiar.

Mas se daqui a mil anos,
Por um desses acasos,
For peça de algum sítio, desencavado,
Nada será notado,
Só uma clavícula partida.





MF.



...
do livro Antagonia - Editora juruá/curitiba





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