Poema em duas peneiradas

Data 07/03/2013 00:00:44 | Tópico: Poemas



Tira o avental, vem cheirar a noite
São de salsa as estrelas
E há um cheiro a alecrim na lua
Esquecida pelos amantes no meu quintal

Traz esse teu sorriso de planetas
O mar finito de onde caio
Índias de especiarias
Áfricas de balsas
Tudo menos caravelas negreiras

Faz-me um filho na gávea
Grávida de Açores
No leme das suas asas
Na proa de um poema que tenho pra te dar

Desagua em mim foz de um rio
Naufraga entre os meus dedos, palavras
E avista terra nas minhas lágrimas

Planta-me no teu ventre
Espera que cresça viçoso

Depois poda-me pra que volte a nascer
E dos rebentos das minhas ausências
Faz castelos de cartas
Dominós de esperança

Estarei sempre aqui para te cantar
Cigarra tonta
História ao contrário de formigas
Que nunca foram além do Bojador

Se me amares
Verás que há no céu um risco que nos divide:
-Metade de mim pertence-te
A outra metade é o poema que te dou

Tira o avental, vem cheirar o dia

Nascente


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