Sentado, sozinho, cansado e sabendo... Que minha missão aqui chegou ao fim. Doze anos de batalhas diárias Pra que o sucesso, um dia, chegue a mim.
Mas... eu olho para o lado, Vejo as firmes paredes do quarto, Aqueles quadros de família empoeirados E as portas cinzentas arranhadas.
Ouço o forro com verniz que dá estalos, Vejo o chão que tanto percorri, Vejo a janela por onde ouço meu galo E sinto o cheiro desta terra onde vivi.
Depois de passar tantos anos, Chega a hora de despedir-me de tudo... Desta vida que me acostumei, E das coisas que aqui tanto amei.
Não serei mais acordado pelos ruídos Do meu avô n’alvorada levantando, No lugar disso, ouvirei as buzinas E as sirenes dos bombeiros gritando.
Já não verei mais a vó servindo a mesa Ou meu irmão me contando curiosidades; Não verei mais a mãe entrando alegre Pela porta com diversas novidades.
Quando agora eu abrir minha janela Verei prédios e não meu galo branco E no pátio não terei aquele ar Que contemplava sentado em qualquer banco.
Quando de passagem, por aqui aparecer Tudo já estará mudado... Não terei mais meu quarto como antes, Nem vontade de tocar o meu teclado.
Mas um dia, meus senhores, vou de voltar Pra viver até o fim neste meu chão. Quero ouvir o som dos grilos pela noite E os sapos do campo a coaxar.
Quero ver minha mãe sendo feliz E meus avós descansando neste lar. Por isso, se Deus permitir, Hei de tomar minha amada nos braços E com um diploma suado na mão Chegarei de mala e cuia Pra sentir outra vez esta emoção.
Porém não posso prever meu futuro Nem sei o que vai mudar Mas não temo enfrentar o destino Pois comigo só carrego a certeza De que um dia, certamente, vou voltar!
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