Unidade

Data 22/03/2013 14:03:38 | Tópico: Prosas Poéticas

Quando o ponteiro da irmã lua falou por aonde seu irmão
sol já andava, atravessei o primeiro segundo do raio que divide
o ontem do hoje. A fêmea negra, que o Grande Espírito
designou pra bordar as luzes, bafejava devagar pra não
molestar os vaga-lumes. Aranhava o manto, a senhora,
e seu suor caia sobre as relvas e montes dando radiâncias
no tapete, que há muitas luas, já existia antes do meu vir.
Eu vi que estava gasto e suas costuras já se desmanchavam,
mas ainda conservava todas as cores. Meus olhos caíram sobre
ele e o espírito que anda dentro de mim entoou uma cantiga de
recebimento. Dei a paz e me encurvei à terra e minhas mãos
arrancaram um punhado de chão e soprei a oferenda ao Dono
de Tudo. Dancei e cantei pela sabedoria dos Olhos que espreitam
meu andar e pelo Hálito que desce da boca do céu dando vida a
meus ossos, e aos irmãos, que me aceitam e oferecem tudo
enquanto faço a caminhada. A Grande Visão não separa nada,
faz a unidade pra sobrevivência da grande mãe que carrega no
corpo as histórias dos seus filhos; o governo da matéria recaiu
sobre o homem, mas a mãe natureza é quem dita seus passos.
Reverencio no monte a cartografia desenhada pela Inteligência;
bato os pés e abro os braços quando o ponteiro do irmão sol
toca-me os olhos. Ergo as mãos pra luz recebendo a força do
arco do novo dia.



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