EVENTO V - 2013

Data 25/03/2013 01:22:50 | Tópico: Evento

Caros lusuários:

Este V Evento será um desafio lúdico, mas literariamente enriquecedor, e se tiver boa aceitação, planeamos repeti-lo, com outros poetas e outros trabalhos: trata-se de um jogo de "correspondências": dez autores para dez poemas.

O que o concorrente/leitor terá que fazer é atribuir a autoria, em função da lista aleatória dos poetas-colaboradores, aos 10 poemas aqui publicados.

Para isso, terá que ler cada um dos trabalhos com atenção, tentando identificar a marca ou o estilo do autor, a escolher na lista fornecida. Será, com certeza, um bom exercício de leitura e de aprofundamento - é claro que poderá (e talvez deva) haver a necessidade de revisitar cada um dos autores e fazer um reconhecimento da sua escrita...

Não é difícil. Todos nós temos as nossas maneiras próprias, a nossa "escrita de marca", o nosso cunho pessoal... e cada autor, como pedido, esforçou-se por deixar que ela transparecesse, nos trabalhos cedidos, sem no entanto a deixar demasiado óbvia...

De notar que os trabalhos são inéditos, por isso não vale perguntar ao tio Google!

É um excelente conjunto de poemas, se mais nada houver a ganhar, só a sua leitura já é um prémio.


Do regulamento:

§ Todos poderão participar, exceto, claro, os autores colaboradores!

§ As respostas, com a lista de títulos, seguida do nome sugerido do autor, deverão ser enviadas por mensagem privada para este perfil, Eventos Luso-Poemas.

§ Cada concorrente/lusuário pode enviar até 3 (três) tentativas de alinhamento das autorias.

§ Em resposta a cada mensagem, o E L-P informará quantas autorias o concorrente conseguiu fazer corresponder, sem especificar quais.

§ A cada nova tentativa, o E L-P informará quantos acertos coincidentes se verificaram, em relação á(s) anteriore(s), mas nunca apontando quais.

§ As correspondências conseguidas com sucesso, em cada uma das tentativas, não serão acumuláveis, para efeitos de contagem de pontos - valerá a tentativa que tiver o melhor resultado.

§ O evento decorrerá até que alguém consiga fazer as dez correspondências de autoria - se isso não acontecer até ao próximo dia 30 de Março, o evento será dado como encerrado, considerando-se vencedor do mesmo, o concorrente que tiver assinalado mais autorias.

§ O vencedor terá direito a um Luso de ouro.

§ Não se porá o problema de empates ou classificações ex aequo, visto que se considerará a ordem cronológica das respostas.


A lista de autores é a seguinte:




***



Leia os poemas aqui:
|
|
|
V

DEPOIS DA PALAVRA

Vomito pancadas talhadas no azulejo
Arco curvado pelas tuas mãos
Arco curvado.

Uma vez trouxestes-me uma janela
E pude ver o ar
e mesmo falso, respirava-o.

Mas o amor requeria provas que o movesse
fora das palavras que me davas
e talhavam em pouco tempo.
Portanto
não as quero mais,
quero carne e sangue!

A palavra morre, a palavra falha, a palavra talha.

--------------------------------------------------


Todas as árvores possuem flores.

Toda árvore possui flor.
E a vida caminha embaixo dela...
E de seus frutos se alimenta,
de sua fotossíntese respira
de sua celulose abastece-se,
tira-lhe a cortiça,
a lenha de seu lume,
a madeira de seus instrumentos...

Lenhoso vegetal
de brilho e clorofila.
A perene seiva
de sua copa à raiz.
A revestir de solidez
o solo que se anda.

A exemplo:
Seu legitimo poder na natureza.
A doçura edificada
dos açucares em suas folhas.
A generosidade de sua sombra.
A versátil zona viva
de suas estações funcionais:
Vívidas flores da primavera,
folhas sábias caducas do outono,
seu súber às intempéries,
em sua protetora fortaleza.

A sabedoria a encantar os ventos,
que polinizam suas cores, seus aromas.
Como se todas fossem árvores ornamentais,
magnólias, ipês, flanboyants,
a adornar em beleza e essência nossa vida.


-------------------------------------------------


Chovem punhais

Chovem punhais do céu de Marte
O deus da guerra está a postos
Titã , a lua , lança frias névoas
Saturno regela-se nesse compasso
Distante do Sol que aquece a Terra
Sementeira régia do sideral espaço.

Levantam-se montanhas, ao olhar
A flora enfeita as belas paisagens
Netuno governa oceanos e mares
Ninfas dançam nos bosques e lagos
Animais habitam todos os lados
Povoando a terra, a água e o ar.

Prometeu, doa ao homo, o fogo divino
Evolução e domínio - é o progresso
Destronados os deuses do Olimpo
A razão ordena o novo mundo-projeto
A ciência e a técnica, tronam o racional
‘Converso deus’, senhor deste universo.

Chovem punhais do céu da Terra...


--------------------------------------------------


Na linha deste voo

É escura a noite
ao fundo cintilam as luzes
de um lugar distante
onde as almas dormem
no sono dos sonhos...

Chove!

Pingo a pingo
sobre as verdes folhas
de uma árvore com a raiz
suspensa no solo...

Gota...gota
ao som da ausência das estrelas!

Silêncio
na distância lunar do dia
...um pássaro perdido
sacode as asas
num céu negro

Por um instante
deixo o pensamento
na linha deste voo
a retomar ao ninho!

No beiral do santuário
onde o sagrado é um olhar
(des)coordenado
a sorrir por me saber sentir!


--------------------------------------------------


Florema

Pingo lírio
no olhar lírico
e brota
a lágrima
que fere
a pele
do colibri.

Cai a pena,
o colírio
do poeta,

Voa
a pétala
no bico
do vento.
no circo
da dor,
o verso
encena:

Cai o pranto,
rega a planta,
nasce
o poema.



--------------------------------------------------

ENSAIO-ME

Ensaio-me para ser menos confusa. Mais exata. Sobretudo ensaio outros costumes, outras manias, outras maneiras de mentir e sentir
ensaio para ser igual...
tão igual, como tantas outras, que se perdem na sua fantasia; confusas figuras de teatro, sem palco, sem fama
estou me ensaiando para ser menos espontânea, ser mais pratica, mais estática, dizem ser mais chique. Mais madame.
estou ensaiando para ser igual, igual boneca de pano forrada com idéias arcaicas.
assim serei finalmente considerada
sociedademente correta


--------------------------------------------------

O... (fogo) e o juízo final...

morrem os espelhos (vazios)
com vistas do sol e da chuva
a jaqueta que tanto gosta
o cansaço dos pecados (aos pedaços)
o oxigênio que consome a sombra (sem cela)

a alma vendida como carne barata,
na terra e no mar
(todos os barulhos somem)...
tua voz quando chama meu nome,
o jeito que você põe o cabelo atrás da orelha...

pois me morre teu reflexo
e Deus... Deus não pode consolar
(um navio em chamas)


--------------------------------------------------

Poema sem nada que o tenha

passo uma escova nos anos
pinto os lábios com o teu beijo
digo-te sem saber ler nem escrever
que te amo em Braille

respondes pelo enigma traquina do sorriso
a felicidade que só as crianças conhecem
e nunca estamos sós

depois amámo-nos
como se amam as flores
pelo caule das coisas simples
na metamorfose dos corpos

rimo-nos da tristeza
afagamos a beleza com mãos de tesoura
sem espinhos de futuro

e de tão felizes
apanhamos autocarros que nos levam
barcos que nos trazem
comboios que nos apitam

entre a felicidade azul de uma tela
entre dois mundos que se tangem
nos tijolos que os amantes compõem
há uma só certeza:
amar é uma empreitada de andaimes

um rio a correr para a terra
um gato sonolento num beiral
um pedaço da corda toda
Orquestra em fosso fundo

sabedores dos segredos das crisálidas
roemos os ossos ao destino
e ficamos à beira sonho
estampados como mártires
num pedaço de casulo
que usamos como noz

--------------------------------------------------


acusado in terno

a testemunha
crava suas unhas
nas palmas do medo.
o juiz aponta o dedo:
- culpado!

todos olham de lado,
o alívio é imediato.
ninguém sabe como
mas, o culpado, de fato,
era o mordomo.

(que nesse dia estava de folga)

--------------------------------------------------


PARTIDA

Não quero o travo
Cerrado dos lábios
Nem o grito do soluço aceso
No peito rasgado em lágrimas
De revolta e compaixão
Nas mãos desarmadas
Do abraço que te neguei…

Presenteia-me com sorrisos de face rosada
Em noite de lua cheia
Estende as mãos ao mar
E sussurra-lhe o meu nome
(Ele não esquece
O meu jeito de amar…)

Não sigas a corrente que todos seguem.
Embrulha antes, o beijo quente
Que te deixo nesta folha
E quando enxugares todas as lágrimas
Deita-a ao mar…

(Quero o Adeus mais silencioso de todas as brisas.)

Quando o voo partir
Recorda o cheiro das rosas
E o hálito do beijo que te não dei.
Lá do alto só quero sentir
O sorriso que me devolveste
Quando pela primeira vez, te olhei!





Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=244380