| Caros lusuários: 
 Este V Evento será um desafio lúdico, mas literariamente enriquecedor, e se tiver boa aceitação, planeamos repeti-lo, com outros poetas e outros trabalhos: trata-se de um jogo de "correspondências": dez autores para dez poemas.
 
 O que o concorrente/leitor terá que fazer é atribuir a autoria, em função da lista aleatória dos poetas-colaboradores, aos 10 poemas aqui publicados.
 
 Para isso, terá que ler cada um dos trabalhos com atenção, tentando identificar a marca ou o estilo do autor, a escolher na lista fornecida. Será, com certeza, um bom exercício de leitura e de aprofundamento - é claro que poderá (e talvez deva) haver a necessidade de revisitar cada um dos autores e fazer um reconhecimento da sua escrita...
 
 Não é difícil. Todos nós temos as nossas maneiras próprias, a nossa "escrita de marca", o nosso cunho pessoal... e cada autor, como pedido, esforçou-se por deixar que ela transparecesse, nos trabalhos cedidos, sem no entanto a deixar demasiado óbvia...
 
 De notar que os trabalhos são inéditos, por isso não vale perguntar ao tio Google!
   
 É um excelente conjunto de poemas, se mais nada houver a ganhar, só a sua leitura já é um prémio.
 
 
 Do regulamento:
 
 § Todos poderão participar, exceto, claro, os autores colaboradores!
 
 § As respostas, com a lista de títulos, seguida do nome sugerido do autor, deverão ser enviadas por mensagem privada para este perfil, Eventos Luso-Poemas.
 
 § Cada concorrente/lusuário pode enviar até 3 (três) tentativas de alinhamento das autorias.
 
 § Em resposta a cada mensagem, o E L-P informará quantas autorias o concorrente conseguiu fazer corresponder, sem especificar quais.
 
 § A cada nova tentativa, o E L-P informará quantos acertos coincidentes se verificaram, em relação á(s) anteriore(s), mas nunca apontando quais.
 
 § As correspondências conseguidas com sucesso, em cada uma das tentativas, não serão acumuláveis, para efeitos de contagem de pontos - valerá a tentativa que tiver o melhor resultado.
 
 § O evento decorrerá até que alguém consiga fazer as dez correspondências de autoria - se isso não acontecer até ao próximo dia 30 de Março, o evento será dado como encerrado, considerando-se vencedor do mesmo, o concorrente que tiver assinalado mais autorias.
 
 § O vencedor terá direito a um Luso de ouro.
 
 § Não se porá o problema de empates ou classificações ex aequo, visto que se considerará a ordem cronológica das respostas.
 
 
 
 A lista de autores é a seguinte: 
 
 
 
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 Leia os poemas aqui:|
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 V
 DEPOIS DA PALAVRA
 
 Vomito pancadas talhadas no azulejo
 Arco curvado pelas tuas mãos
 Arco curvado.
 
 Uma vez trouxestes-me uma janela
 E pude ver o ar
 e mesmo falso, respirava-o.
 
 Mas o amor requeria provas que o movesse
 fora das palavras que me davas
 e talhavam em pouco tempo.
 Portanto
 não as quero mais,
 quero carne e sangue!
 
 A palavra morre, a palavra falha, a palavra talha.
 
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 Todas as árvores possuem flores.
 
 Toda árvore possui flor.
 E a vida caminha embaixo dela...
 E de seus frutos se alimenta,
 de sua fotossíntese respira
 de sua celulose abastece-se,
 tira-lhe a cortiça,
 a lenha de seu lume,
 a madeira de seus instrumentos...
 
 Lenhoso vegetal
 de brilho e clorofila.
 A perene seiva
 de sua copa à raiz.
 A revestir de solidez
 o solo que se anda.
 
 A exemplo:
 Seu legitimo poder na natureza.
 A doçura edificada
 dos açucares em suas folhas.
 A generosidade de sua sombra.
 A versátil zona viva
 de suas estações funcionais:
 Vívidas flores da primavera,
 folhas sábias caducas do outono,
 seu súber às intempéries,
 em sua protetora fortaleza.
 
 A sabedoria a encantar os ventos,
 que polinizam suas cores, seus aromas.
 Como se todas fossem árvores ornamentais,
 magnólias, ipês, flanboyants,
 a adornar em beleza e essência nossa vida.
 
 
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 Chovem punhais
 
 Chovem punhais do céu de Marte
 O deus da guerra está a postos
 Titã , a lua , lança frias névoas
 Saturno regela-se nesse compasso
 Distante do Sol que aquece a Terra
 Sementeira régia do sideral espaço.
 
 Levantam-se montanhas, ao olhar
 A flora enfeita as belas paisagens
 Netuno governa oceanos e mares
 Ninfas dançam nos bosques e lagos
 Animais habitam todos os lados
 Povoando a terra, a água e o ar.
 
 Prometeu, doa ao homo, o fogo divino
 Evolução e domínio - é o progresso
 Destronados os deuses do Olimpo
 A razão ordena o novo mundo-projeto
 A ciência e a técnica, tronam o racional
 ‘Converso deus’, senhor deste universo.
 
 Chovem punhais do céu da Terra...
 
 
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 Na linha deste voo
 
 É escura a noite
 ao fundo cintilam as luzes
 de um lugar distante
 onde as almas dormem
 no sono dos sonhos...
 
 Chove!
 
 Pingo a pingo
 sobre as verdes folhas
 de uma árvore com a raiz
 suspensa no solo...
 
 Gota...gota
 ao som da ausência das estrelas!
 
 Silêncio
 na distância lunar do dia
 ...um pássaro perdido
 sacode as asas
 num céu negro
 
 Por um instante
 deixo o pensamento
 na linha deste voo
 a retomar ao ninho!
 
 No beiral do santuário
 onde o sagrado é um olhar
 (des)coordenado
 a sorrir por me saber sentir!
 
 
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 Florema
 
 Pingo lírio
 no olhar lírico
 e brota
 a lágrima
 que fere
 a pele
 do colibri.
 
 Cai a pena,
 o colírio
 do poeta,
 
 Voa
 a pétala
 no bico
 do vento.
 no circo
 da dor,
 o verso
 encena:
 
 Cai o pranto,
 rega a planta,
 nasce
 o poema.
 
 
 
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 ENSAIO-ME
 
 Ensaio-me para ser menos confusa. Mais exata. Sobretudo ensaio outros costumes, outras manias, outras maneiras de mentir e sentir
 ensaio para ser igual...
 tão igual, como tantas outras, que se perdem na sua fantasia; confusas figuras de teatro, sem palco, sem fama
 estou me ensaiando para ser menos espontânea, ser mais pratica, mais estática, dizem ser mais chique. Mais madame.
 estou ensaiando para ser igual, igual boneca de pano forrada com idéias arcaicas.
 assim serei finalmente considerada
 sociedademente correta
 
 
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 O... (fogo) e o juízo final...
 
 morrem os espelhos (vazios)
 com vistas do sol e da chuva
 a jaqueta que tanto gosta
 o cansaço dos pecados (aos pedaços)
 o oxigênio que consome a sombra (sem cela)
 
 a alma vendida como carne barata,
 na terra e no mar
 (todos os barulhos somem)...
 tua voz quando chama meu nome,
 o jeito que você põe o cabelo atrás da orelha...
 
 pois me morre teu reflexo
 e Deus... Deus não pode consolar
 (um navio em chamas)
 
 
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 Poema sem nada que o tenha
 
 passo uma escova nos anos
 pinto os lábios com o teu beijo
 digo-te sem saber ler nem escrever
 que te amo em Braille
 
 respondes pelo enigma traquina do sorriso
 a felicidade que só as crianças conhecem
 e nunca estamos sós
 
 depois amámo-nos
 como se amam as flores
 pelo caule das coisas simples
 na metamorfose dos corpos
 
 rimo-nos da tristeza
 afagamos a beleza com mãos de tesoura
 sem espinhos de futuro
 
 e de tão felizes
 apanhamos autocarros que nos levam
 barcos que nos trazem
 comboios que nos apitam
 
 entre a felicidade azul de uma tela
 entre dois mundos que se tangem
 nos tijolos que os amantes compõem
 há uma só certeza:
 amar é uma empreitada de andaimes
 
 um rio a correr para a terra
 um gato sonolento num beiral
 um pedaço da corda toda
 Orquestra em fosso fundo
 
 sabedores dos segredos das crisálidas
 roemos os ossos ao destino
 e ficamos à beira sonho
 estampados como mártires
 num pedaço de casulo
 que usamos como noz
 
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 acusado in terno
 
 a testemunha
 crava suas unhas
 nas palmas do medo.
 o juiz aponta o dedo:
 - culpado!
 
 todos olham de lado,
 o alívio é imediato.
 ninguém sabe como
 mas, o culpado, de fato,
 era o mordomo.
 
 (que nesse dia estava de folga)
 
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 PARTIDA
 
 Não quero o travo
 Cerrado dos lábios
 Nem o grito do soluço aceso
 No peito rasgado em lágrimas
 De revolta e compaixão
 Nas mãos desarmadas
 Do abraço que te neguei…
 
 Presenteia-me com sorrisos de face rosada
 Em noite de lua cheia
 Estende as mãos ao mar
 E sussurra-lhe o meu nome
 (Ele não esquece
 O meu jeito de amar…)
 
 Não sigas a corrente que todos seguem.
 Embrulha antes, o beijo quente
 Que te deixo nesta folha
 E quando enxugares todas as lágrimas
 Deita-a ao mar…
 
 (Quero o Adeus mais silencioso de todas as brisas.)
 
 Quando o voo partir
 Recorda o cheiro das rosas
 E o hálito do beijo que te não dei.
 Lá do alto só quero sentir
 O sorriso que me devolveste
 Quando pela primeira vez, te olhei!
 
 
 
 
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