
pique-niké II
Data 30/03/2013 17:12:34 | Tópico: Poemas
| mais uma leva de poemas de tiro-e-queda: poemas curtos pra quem curte. a vida é curta, compartilhe.
I
fui falar de amor: mal abri a boca, o neruda já tinha dito. poeta maldito.
II
pôr palavra pra lavar pra lavar palavra por palavra vá pôr a palavra pra lá pra lavar a vapor
III
é preciso lembrar as siglas
PE, BR, CEP, CPF, INSS DPVAT, IPVA, ONU, OTAN
vou ver se alguém me esquece por favor, não me sigla
IV
mente-se a semente: já é flor e nem sente
V
o subúrbio fala, escute-o não tem escada nenhuma e nas ladeiras marcas de unha improvisam o caminho
VI
cemitérios para os vivos são mistérios para os mortos
VII
passam os anos, passarinho e eu fico aqui sozinho. eu, e meus desenganos.
VIII
de maria, só tinha a devoção: o gênio era do cão mesmo.
IX
ao poema de dieta é mais barato comer a poesia e deixar o poeta no prato
X
enquanto todo mundo se dói ao meu redor me sinto meio super-herói
XI
deitada na cama a princesa engana à noite acorda e usa o lençol como corda
XII
quando o ciúme escapuliu-me do peito virou foi voz de dois gumes
XIII
quando eu andar pra fora de mim passarei um cadeado nos sonhos o ferrolho será feito de liga leve fácil de encontrar na realidade
XIV
naufrágio nau frágil sufrágio universal
XV
a poesia escorre quando jovens viúvas lavam a solidão da cara
XVI
só vou deixar de madrugada numa esquina abandonada uma cachaça pros santos brancos, pretos, euros, bantos no dia em que oferenda deduzir do imposto de renda
XVII
às pressas, a promessa lava a alma lava a cara
já com calma recomeça e esquece o que jurara
XVIII
a mentira tem pernas curtas (e umas meias bem bonitas)
XIX
na insônia, garrafa de café e carteira de cigarro funcionam com um simples truque de mágica: abracabou-se
XX
cada tiro cada tombo cada chão
com os pombos repartir o pão
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