(in)diferença

Data 01/04/2013 02:12:16 | Tópico: Poemas -> Sociais

Tentei não ver,
mas os ouvidos não acompanharam a fuga dos olhos
e se deram ao pedido.
A voz sofrida,
marcada pela timidez de quem tem que implorar,
atraiu de volta as pedras do meu olhar,
espelho do coração endurecido.

No frio da noite,
implorando por alguns trocados, eu vi na calçada
a mulher e a menina.
E aquela imagem,
socando minha paz, chacoalhando minha calma;
por alguns segundos, entrou na minha alma
derretendo as retinas.

A mão estendida,
os rasgos e remendos das roupas surradas,
cujas as marcas da surra seguiam pro rosto
na velhice precoce, imprimindo na cara
os tapas da vida.

Igual a um bicho,
ao ver a criança sentada no chão
e seus lindos olhinhos no meio a imundície,
foi como encontrar minha própria inocência
jogada no lixo.

Abri a carteira,
entreguei o que tinha,
virei as costas,
recompus as retinas
e segui...



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