Sob a Luz de Uma Triste Vela

Data 03/04/2013 14:37:10 | Tópico: Poemas -> Sombrios

Sob a luz opaca de uma triste e agonizante vela sozinha à mesa
Observava atentamente a porta robusta, como uma miserável presa
Despida e acorrentada pelos pulsos finos, e carne viva à mostra.
Há dois dias sem alimentos, eu lutava com o desconhecido para sobreviver
Pela fresta da grande janela, me arrepiava com o último anoitecer
Exausto e esquecido, eu deitava no assoalho imundo, e implorava uma resposta.

As baratas pisoteavam-me com desdenho, e tamanha indiferença
Defecavam em minha enrugada face, e deixavam claro a sentença:
-Insignificante e desalmado! Aberração deixada nesse recanto insólito e hostil!
Os meus gritos de desespero se perdiam entre os móveis, e retornavam aos meus ouvidos
Os ratos sedentos de fome, cravavam os dentes e incitavam os meus gemidos
As traças e aranhas aguardavam ansiosas na fila, para devorar esse corpo febril.

O odor de sangue fresco foi levado por ventos traiçoeiros, para inúmeros cantos sombrios
As vozes estridentes atrás da porta, espantaram os insetos para imensos buracos vazios
Como animais selvagens, arrebatavam a parede com estrondos ensurdecedores.
Em questão de segundos eu partirei para um mundo horripilante mergulhado em escuridão
Mas, ainda com um pingo de esperança, eu tento fabricar forças inexistentes em minhas fracas mãos
Sem êxito eu caio apático, e espero as sediciosas pestes demoníacas, em seus corpos subversores.

Vejo uma gigantesca foice negra dilacerar a madeira nobre, da sala modesta e apodrecida
Dezenas de seres decompostos arrancam-me das correntes grossas, e a minha visão torna-se escurecida
Imploro com lágrimas vermelhas que me deixem nesse triste lugar, que não se apoderem de minha alma doente.
Em gargalhadas que petrificam os corações temerosos, me arrastam para fora da casa em demasiada fúria
Extirpam os meus membros em gestos lentos, queimando-me as partes íntimas, e esbravejando desnorteante injúria
Enterram-me ainda com os olhos à procura de um salvador: Mas logo eles se fecham, pois a espera é ilusória, é impossível, incoerente!
http://alexmenegueli.blogspot.com.br/
Essa poesia estará em meu livro: A Bordo da Pequena Barca. Que contará com mais 19 poesias.



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