Memórias de Uma Insana III – Alucinações

Data 07/04/2013 22:16:40 | Tópico: Contos


Foto Betha Mendonça

Memórias de Uma Insana III – Alucinações
by Betha Mendonça

Vez por outra vinha uma enfermeira medir minhas funções vitais, trazer medicação ou simplesmente checar se eu não fizera nenhuma bobagem. Como se naquele sanatório, na ala quatro, com quarto acolchoado e sem nada além de mim mesma, desse para fazer algo... Até minhas unhas eram cortadas para que eu não me arranhasse e tirasse lasquinhas da pele. Um tédio!

O uso de termos “nós vamos comer tudo!”, “como estamos hoje?” e outros que as enfermeiras usavam ao se dirigirem a mim, irritavam-me a ponto de gritar-lhes com plenos pulmões: - Eu sou louca, não sou criança!Parem de falar e me tratar como tal! Assim conseguia me livrar das suas presenças incomodas.

Sentia-me melhor com “o barato” advindo com os efeitos colaterais dos remédios. Ah, eram tão bonitas as rendas coloridas que eu via nas paredes!...Elas balançavam e giravam formando desenhos incompreensíveis, mas que davam sensações muito agradáveis.

Efeito semelhante eu conseguia quando fechava os olhos e comprimia a ambos nas órbitas com o indicador e polegar direitos. Luzes multicoloridas se acendiam nas minhas pálpebras fechadas e formas geométricas diversas - como múltiplos caleidoscópios - iluminavam a minha mente escura até que eu apagasse como uma vela soprada.

Evitava falar ao doutor sobre essas coisas. Temia que ele mudasse as drogas e eu perdesse as sensações que o vício me dava. Também não queria confessar-me viciada e assim agregar mais gravidade a minha “patologia” como diziam os médicos. Além disso, eu criara apego no doutor. Ele era um bom homem e cria nas minhas boas intenções de melhorar e na minha cura...




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