O amanhã não é para sempre.
Data 09/04/2013 18:46:18 | Tópico: Poemas -> Reflexão
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Ah esse tempo ingrato, que resolveu materializar-se em mim. Tatuando-me a estética da velhice, descorando minha juventude. Minando-me a resistência, a capacidade.
A desestruturar minha arquitetura. Degenerando-me os desejos, as cartilagens. Atrofiando minhas papilas, em vontades e sabores. Embaralhando e deletando em lapsos meus conhecimentos.
A realçar minha consciência de finitude. Cruelmente revelando-me quão ínfima e obscena me foi sua quantidade.
Eu, perecível produto cultural. Pessoa ignorada,até marginalizada, Inútil e carente em minha senilidade. A exalar cheiros de remédios, tão orgânica como os sábios livros velhos, ácidos e morfados.
Cheia de rusgas e manias, sem os ímpetos do entusiasmo perdidos na longevidade. Na lentidão dos gestos, que não permitem-me apreender... A beleza do sonho a tirar sons da lira.
E essa oculta insatisfação do espírito, na contramão de um tempo não linear. Tão repleto de espontaneidade, como se ainda fosse criança.
Em contraponto minha franqueza desenfreada, despindo-me da comum hipocrisia. A dizer sinceridades, mesmo que seja aos ventos... O liquido direito de não aceitar ser desrespeitada,depreciada,infantilizada ser um peso, ou um nada.
O íntimo desejo de não ser apenas uma leitura inacabada... Como a expressão do tempo, fases , ciclos inerentes a todos, de um amanhã que não é para sempre.
[Ou a absoluta certeza que viver é a melhor idade.]
Lufague .
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