Breve vida de um poema

Data 10/04/2013 23:44:09 | Tópico: Contos -> Tristeza

O pai, um bêbado, ainda doente de amor mal curado.
A mãe, uma mente conturbada, envolta aos vícios do pai.
Foi concebido numa noite qualquer, num canto qualquer de um bar imundo.
A gestação foi curta, poucos minutos, até nascer sobre a folha de um guardanapo de papel, pela caneta emprestada de um garçom; num parto rápido, como um escarro que despejava ali as secreções daquela doença, doença que trazia em seu corpo: sua herança genética.
Mas nasceu velho, enrugado, marcado pela dor: a cara do pai.
E naquele ambiente, tão logo foi apresentado à bebida, sugando o resto de cachaça de um copo que tombou sobre ele. Pela mesma cachaça, seu pai também tombou e foi levado embora junto com a mãe desmaiada. Abandonado ali na mesa, foi em seguida assassinado pelo mesmo garçom que ajudou no parto, numa morte também rápida. Sem velório foi enterrado no lixo.
Vida breve! Morreu sem nunca ter sido lido, sem sequer saber que foi um poema.



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