Solidão compartilhada

Data 15/04/2013 20:01:36 | Tópico: Contos

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Se aproximou da janela do quarto e perscrutou a noite sentindo a brisa tocar-lhe o rosto. Vasculhou o céu e se deteve em uma estrela... Uma, entre tantas outras que reluziam. Algo naquele pontinho luminoso chamou-lhe atenção; a solidão. Estava tão afastada das outras estrelas... Assim que nem eu – pensou. Surgiu uma sintonia naquele momento, como se ela e a estrela se tocassem. Era como se aquele corpo celeste lhe falasse, dizendo o quanto se identificava com seu estado solitário. Perdeu-se nas horas, envolvida que estava com aquela troca de sentimentos; uma lágrima escorregou pelo rosto se alojando no parapeito da janela. Algo pedia aconchego. Necessidade impalpável que riscava-lhe a pele trincando a alma. Recriminou-se ante a lástima, pois ainda a pouco os seus estavam rindo consigo em conversas despreocupadas, dormindo naquele momento o sono dos anjos, enquanto algo abstrato a corroia por dentro; um apelo da alma ansiando interpretação; desejo de transpor alguma fronteira pra outra dimensão; um querer sem saber o que. Como aquela estrela distante, também se via afastada de todas as realidades. Mas seu corpo, tão sólido e sensitivo, a fez despertar das divagações quando a brisa tocou novamente seu rosto. Suspirou chamando pra dentro de si o que lhe faltava e sem ver resultado entregou-se à conformidade enquanto se despedia da estrela. Percebeu, dentro de sua ilusão, que ela cintilou mais viva, como em recíproca. Sorriu, desenhando o contorno invisível de cinco pontas no ar, sentindo momentaneamente a ponta do dedo aquecido; pequeno conforto em territórios opostos



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