
ÚLTIMA LÀGRIMA
Data 16/04/2013 08:47:12 | Tópico: Poemas
| Brindo então a isto, a isso e àquilo… Brindo ao primeiro beijo, porque nunca aconteceu um último; Brindo à noite e à embriagues que nos apresentou a nudez, a primeira lembras-te? Parecia tão certo… Brindo ao amanhã ligo-te e ao conta-me quando deixares a magia fugir; Nunca chegou a fugir, foi chegando devagarinho como quem quer ficar… Brindo a mim e a ti, porque foi só o que importou naqueles breves momentos… …entre o adormecer e o acordar; Brindo às velas, às músicas e ao vinho que em demasia bebemos; porventura deixámos; aos segredos e às certezas, ao lugar e à hora marcada; Ao café amargo de cada manhã, que nunca terminavas, como tudo na tua vida… Brindo ao cabelo preso e aos perdidos pelo chão quando as mãos arranhavam… Em que continuo a tropeçar; Às fotos da nudez que permanecem gravadas na memória, nunca sairão… A cada manjar e à fome de ti a que o jejum obrigava… A cada mentira… as minhas e tuas… porque a mim menti também de cada vez que fingia acreditar… Brindo a cada ida e cada regresso, quando em silêncio engolia em seco e forçava o sorriso triunfante de quem te possui… Brindo à forma que deixaste na almofada, ao cheiro espalhado da ausência… Brindo a cada noite em que me viro procurando teu corpo magro… continuo a procurar… Brindo porque te vi a alma nua numa epifânia desgraçada de anjo caído… e gostei… Brindo àquela lágrima que bebi… poção mágica da minha certeza; Brindo então a ti e a mim, pelo que fomos e pelo que podíamos ter sido se o relógio não teimasse em enganar o tempo… os tais momentos… Brindo ao fim da praia, às ondas que me encorajaste a abraçar; Brindo ao até breve e ao amo-te que sustentam que podia bem ter sido verdade; Brindo ao jogo perigoso que insistimos em praticar… uma e outra vez à nudez… Brindo a cada sorriso com que te mostrei ao meu mundo… com que aprendi a gostar do teu… Às fotos de quem nunca conheci… porventura reconheci… Brindo uma vez mais à embriaguez que por ti abandonei… Brindo aos planos que nunca disso passaram… Brindo às manhãs em que falavas pelos cotovelos… sentia-te feliz… minha mulher… Brindo a cada canto do sofá, à pressa em amar e até à falta dela… Brindo a cada engano, fui eu quem deixou… fui eu quem quis… Brindo a todas as coisas que descobri… tantas que esqueço por ti… Brindo quando em surdina sussurro teu nome por engano em momentos alheios… Quando fecho os olhos e recordo o teu sorriso a instruir-me na arte de percorrer teu corpo… Brindo às línguas que faiscavam depressa demais, às mãos lentas que haviam perdido a pressa… Brindo, é certo ao engano… mas acima de tudo ao desengano… Brindo ao inicio porque nunca houve um fim… Brindo aos segredos que escondo nesta casa… meus e teus… Brindo às promessas ditas na pressa de quem quer acreditar, a cada sabor que só eu e tu conhecemos… Brindo uma ultima vez ao até já, que sabemos pintado de nunca mais… Brindo ao grito silencioso que irás arrancar da noite quando a tua alma de novo se revelar nua… e eu não estiver para a chamar pelo nome… que só eu conheço… Brindo do princípio ao fim… e irei continuar a brindar para lá disso… Brindo à tua e à minha lágrima… …a que verto no exacto momento em que decido ser a última… No exacto momento em que termino “este” brinde… 2009 MV
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