A criação .

Data 19/04/2013 11:29:21 | Tópico: Poemas

(#) - O sinal continua valendo. Tenho esse direito? Tenho o direito a uma reação eminentemente humana?
E sem hipocrisia? Sem hipocrisia não dá, afinal sou o mais hipócrita daqui, assumo. Mas se vc não quer reagir com seus pares, não os culpe. Ou culpe. Vendar os olhos, os seus, é também um direito.








A criação







O que resulta deste plantio, esta poesia,
Além do tempo gasto para educá-la e dar-lhe um nome,
Uma personalidade, é essa esmola de ficar contente,
Enquanto a vadia desfila por aí,
Suas ancas e tipos e rebolados,
Sabe lá Deus em que tipo de espeluncas e antros,
Em que tipo de cérebros ou cerebelos atrofiados.

E lá vai essa moça, toda oferecida e úmida,
Pelas bocas em babas de bêbados
Ou tintas de uma impressão num jornal qualquer.

E tropeça pelos becos apertados e imundos,
Bocadas ainda piores, gente de qualquer espécie,
Todos metendo a língua suja e ferina
Nas reentrâncias de suas curvas de menina bem ou má criada.

E levantam a saia sem o menor respeito, em público.
E a declamam, sem o menor pudor,
Ao largo, bem ao largo da delicadeza,
Comendo com os olhos todos os significados,
Até às bordas de suas costuras mais íntimas,
Nos vãos de suas fendas estreitas e mais apertadas.

E gritam em suas coxas coisas estúpidas e sem propósito
O que dela, nem mesmo em sonho poderia existir.

E lambem e roçam e comem minha poesia
Nas mais variadas posições como a um bacanal, um Kama Sutra,
E nos lugares mais inverossímeis.

Os pais de hoje não podem nada.
Não podem proteger, protestar,
Nem mesmo um breve olhar de ciúme.
Não podem nada sobre toda essa promiscuidade.

Entregues ao mundo, nós a perdemos.
Ainda assim não subtraímos o orgulho e a vaidade de dizer que é nossa.

Filhos, poesias, não importa, é isso o que acontece.
E a gente cria com tanto carinho.








MF.


.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=246138