RG (reeditado)

Data 19/04/2013 15:41:23 | Tópico: Contos

O presidente da tribo amanheceu na ressaca depois de algumas cevadas fermentadas que não desceram redondas e foi direto para o espelho de água vomitar. E a cada golfada contava mais uma ruga na testa. Riu com os ombros tremidos. Quinhentas e nove rugas! O presidente da tribo estava com a cara vermelha, mas começou a barbear-se com lâmina à bateria. Vaidoso, lambuzou a cabeleira comparada às asas de um anum preto com condicionador espremido de um bicho-da-seda e gargalhou ao ver sobre a peneira da parabólica o “chefe” da FUNAI, que era casado com uma indígena, tentando, com um lenço branco, emitir mensagens de paz. O presidente da tribo estava enfadadiço. Desamarrou sua vitória regia e deitou sobre ela, fumando um contrabandeado do Paraguai, sem filtro. Desencapou uma bala de camomila e mastigou enquanto espirrava uma essência perfumada in natura pelo corpo: protetor solar! A tarde veio escorrendo. Vestiu a camisa do Milan, do Berlusconi, e saiu caminhando devagar. A noite vinha correndo. Acendeu o farolete e falou ao celular. Pensou e depois deu de ombros. Afinal, só não haviam achado ainda seu RG, que havia perdido na nau furada. Foi dormir no sofá da taba vendo os Simpsons pela TV.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=246159