Dormir é morrer vivo

Data 26/04/2013 20:25:24 | Tópico: Poemas

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Ai, que medo
de não morrer agora.
Ai, que pavor
de continuar a história
do eterno retorno
do despertar de pálpebras -
o acordo do acordar.
Ai de mim
sem fim.
Ai do infinito aqui.
A cama é uma membrana,
útero,
caixão do morrer-vivo.
Pés no chão,
direito,
esquerdo,
marchar!
Rumo aos passos já pisados,
aos destinos desenhados
para sina da sua sola.
Há surpresas,
há mistérios,
o que chamam novo,
inusitado
e consideram
inventado,
como se ali
nunca estivera.
A verdade é que o todo
tudo
é sempre até morrer.
Independe da corrente
a vida do rio a correr.
A vida vaza pelo ladrão,
a cada respirada,
piscadela
ou batuque do coração.
Acordar e esperar -
eis a única função.
Até que o treino
de dormorrir
ou adormorrer,
valha, enfim,
para a dor final.
Durma, medo meu.

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