A palavra e a pornografia do entendimento (#)

Data 06/05/2013 20:03:39 | Tópico: Poemas

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A palavra e a pornografia do entendimento






A palavra imprime, fotografa, mas não congela.
Tu, leitor, a interpreta, distorce, espanca,
Enfeia ou empresta, com a mesma naturalidade,
O brilho, o encanto e o belo.
Vive nela o que bem vivo está em ti.

O filme se revela no escuro do teu íntimo e,
Ela, a palavra, te põe no bolso
E ri dos teus segredos escusos, de tua ridícula nudez.
Ou, havendo, contempla a beleza de tua epiderme.

A palavra é clausura da poesia ou, tenta ser.
Mas também liberta na prisão do teu olhar,
A depender da imaginação, do conteúdo
De quem a degusta
Ou, da caneta de quem ousa este coito literário.

Mas a palavra ama o bom leitor, se entrega, lânguida,
Ácida ou úmida, se abre em flor, imitando a vulva.
E te ensina as tantas posições e te supõe amante,
De tal modo e tanto que faria corar o Marquês de Sade.
Ou gentil, te aguarda nas estantes, se teu cérebro soluça
Na imaturidade.

A palavra, bem arrumada, vestida ou em pelo,
Incendeia as antas e os quadrúpedes e,
Nessa alquimia semântica, se faz o macaco em gente.
Ou, no contrário e no avesso de tudo, se faz rente.

Sim, a palavra, equânime, justa, bela, ou medonha,
Gentil, sempre gentil, ao modelo, veste-se
Para te moldar, conforme o teu corpo, tua inteligência
E... te adéqua neste capuz.






MF.

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