Polimnia

Data 18/05/2013 04:38:32 | Tópico: Poemas

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Pego a musa a laço
num jogo de cartas.
Tarô de inspiração.
Marco cada oráculo
e os incendeio,
incensos da meditação.
Dalai lama para esse barro
e águas de março
para o lodo do fundo do poço.
Jogo os dados na direção da musa.
A quina perfeita do cubo numérico,
a sina do sim seguinte
e da alvorada da letra escarlate.
Sangue de um cristo
no batente da porta,
vinho fervendo num barril de carvalho.
A gota de orvalho
é transpiração da musa.
A musa sete pragas
de saia de pregas
voando em nuvem de gafanhoto
a fazer-me engolir sapos.
O mar vermelho abre-se
para que passe a musa.
O cajado de Moisés é
o falo da musa hermafrodita.
Musa esfinge.
Musa finge-se invisível
nas brancas páginas do meu caderno.
O inferno são linhas brancas
e o céu são linhas tortas
com escrita certa,
direta ao ponto,
certeira,
sem devaneios de lua cheia
e bolas murchas
de enxaqueca da ressaca
do vinho sórdido,
do sangue álcool
das veias de musa.
Musa do pulmão
balão de oxigênio
e fumaça de mil cigarros.
Catarro do meu pigarro
a tossir um verso
verde e infecto.
Musa de cabeça nas flores
e pés no lixo.
Laço-te, passarinheiro.
Forjo-te coleira de escansões
e passeio, com tua fúria
por ruas escuras e mausoléus.
Musa da madrugada fria
e ópio.
Musa amorfa,
morfina de minha retina interna.
Musa etérea,
Ensina-me o feitiço de domar-te,
para que pouse em meu ombro
e eu durma.


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